Dólar testa um novo equilíbrio em R$ 3
Moeda pode ter encontrado novo patamar em meio à dificuldade de aprovar ajuste das contas do governo Dilma
Após Levy falar, no fim de janeiro, que câmbio não seria mantido artificialmente, divisa dos EUA acelerou alta
Após quatro dias seguidos de alta, o dólar rompeu a casa de R$ 3, patamar que a maioria dos analistas considera mais confortável para a moeda americana permanecer em meio à instabilidade política e à provável redução nas intervenções do Banco Central na taxa de câmbio.
Nem o aumento dos juros do governo --que foram a 12,75%, conforme previsto, e devem subir mais em abril-- conteve a divisa americana, que, no caso do dólar à vista, subiu 0,86%, para R$ 3,004.
Daqui em diante, segundo analistas, a moeda pode continuar sua escalada se ocorrer uma piora significativa no ambiente político que justifique uma aversão maior ao risco brasileiro, levando a uma saída ainda maior de investidores do país; na última semana de fevereiro, saíram US$ 3,3 bilhões.
Por outro lado, o dólar só deve recuar muito abaixo de R$ 3 se o BC voltar a intervir pesado no mercado de câmbio --ainda não há sinais de que isso possa ocorrer. Mesmo eventuais avanços nas negociações do ajuste das contas do governo não devem ter força para devolver a moeda à casa de R$ 2,90, como no fim de fevereiro.
A moeda americana, que sobe em todo o mundo com a perspectiva de aumento de juros nos EUA, acelerou o ritmo de alta no Brasil desde que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) disse, no fim de janeiro, que não manteria "artificialmente" o câmbio do real.
"Há uma incerteza se o BC vai ou não renovar o programa de intervenções no câmbio. A tendência é que o real se desvalorize", diz Carlos Pedroso, do Tokyo-Mitsubishi.
Segundo Marco Barbosa, analista da CM Capital Markets, o ajuste fiscal deve ser decisivo para o Brasil manter a nota de crédito nas agências de risco. Um rebaixamento poderia motivar uma aceleração da alta do dólar.
BATENDO NOS R$ 3
Negociado a R$ 3,004, o dólar à vista atingiu o maior valor nominal desde 16 de agosto de 2004 (hoje, seriam R$ 4,29). Na semana, a valorização já é de 5,26%.
O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, subiu 1,04% e foi a R$ 3,011. É o maior valor desde 13 de agosto de 2004, quando a principal preocupação do mercado era com a alta do petróleo e com as reformas do então ministro Antonio Palocci (Fazenda).
A Bolsa brasileira fechou em baixa de 0,2%. O minério de ferro atingiu o menor valor em seis anos, levando as ações preferenciais (sem voto) da Vale a recuar 4,08%, depois que a China reduziu sua meta de crescimento do PIB de 7,5% para 7%.