Mistura de férias com trabalho ganha adeptos nos EUA
'Workcation' vira alternativa para profissionais em país que não tem período de descanso previsto em lei
Executiva de plataforma digital que adotou a prática a defende, mas diz que férias são insubstituíveis
A areia clara e fofa, o mar de águas calmas e transparentes, o clima caribenho de Porto Rico é deveras inspirador. Mas só se tiver wi-fi.
É que Adrian Larssen, 32, costuma esticar uma canga na praia para trabalhar durante o inverno de Nova York. É um jeito que ela encontrou para despressurizar, restaurar o pique e ser feliz sem interromper o expediente.
A prática é o "workcation", mistura de "work" (trabalho) e "vacation" (férias). É cada vez mais comum no país, que não tem férias remuneradas previstas em lei.
Nos EUA, até licenças médicas e de maternidade são descontadas do contracheque se o empregador assim quiser.
Adrian é editora-chefe de aconselhamento profissional na The Muse, plataforma digital que ajuda jovens a encontrar trabalho, e empresas a achar candidatos. Lá, cerca de dez funcionários tiram "workcations" anualmente.
A presidente, Kathryn Minshew, 29, diz ser muito favorável, mas que a prática não substitui férias regulares.
"Workcations" podem ser úteis para empresas cuja demanda aumenta em períodos de recesso. No Uber, já faz parte da cultura empresarial.
No primeiro ano de vida, cinco anos atrás, os então cinco únicos funcionários resolveram aliviar a tensão que seria o Réveillon trabalhando da praia de Malibu (Califórnia).
Pesquisa do instituto Ipsos divulgada em 2014 mostrou que 52% dos americanos entrevistados se disseram confiantes de que tirariam férias naquele ano, mas apenas 8% de fato tinham desfrutado do benefício até então no ano.
"Os americanos ficam culpados. Pensam: 'Ai, meu Deus, quando voltar, terei acumulado trabalho demais', e com isso não deixam o escritório", diz John de Graaf, presidente da Take Back Your Time (tome seu tempo de volta), que advoga pelo tempo livre da população.
"É sintomático que as 'workcations' ganhem espaço. Não quero condenar a prática, pois sei que, para alguns, é certamente melhor que nada. Mas a falta de descanso é prejudicial para todos, empresa e empregado."