Brasileiro deve levar gestão enxuta e rigorosa a nova megacervejeira
Carlos Brito terá desafio de integrar cultura "de base zero" da AB InBev à da SAB Miller
À frente da líder do setor, executivo foi criticado por dificuldade em crescer de forma orgânica nos EUA
Quando perguntado, alguns meses atrás, sobre a desaceleração econômica aguda que o Brasil, um dos principais mercados da AB InBev, estava sofrendo, Carlos Brito, o presidente-executivo da companhia, foi sereno.
O grupo não se deixaria distrair pelas tendências macroeconômicas, disse ele, e, em lugar disso, se concentraria nas coisas que compreende e é capaz de controlar: "cerveja, refrigerantes e bebidas energéticas".
Agora, ele tem algo mais a dar atenção: fechar um acordo de aquisição com a SABMiller, uma fabricante de cerveja rival. Com a proposta, o brasileiro Brito está seguindo a estratégia de crescimento que ele e os três bilionários que controlam a AB InBev conhecem melhor.
As sucessivas negociações capitaneadas por Brito nos últimos anos o deixam exposto a questões sobre a capacidade de a empresa promover crescimento orgânico de vendas, sobretudo nos Estados Unidos. Mas o desafio de integrar a SABMiller põe temores como esse na geladeira.
Brito começou a trabalhar com Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira em 1989, quando eles tomaram o controle da brasileira Brahma. À medida que construíam o império que viria a se tornar a AB InBev, o papel de Brito passou a ser identificar e concretizar tomadas de controle acionário cada vez mais impressionantes.
Objetivo, o executivo difunde pessoalmente a cultura que domina a AB InBev, promovendo uma gestão frugal e centrada no desempenho.
Ele disse ao "Financial Times" meses atrás que o único interesse que se permitia fora "da companhia" era sua família –e meia hora de exercício em uma esteira rolante a cada dia.
EQUIPE ALINHADA
Sua filosofia de gestão inclui o "orçamento de base zero", no qual todos os orçamentos voltam ao zero ao final de cada ano e cada custo precisa ser justificado novamente.
O grupo demite regularmente os "10% mais fracos" de sua equipe de trabalho e Brito diz que "esses estão sempre reclamando e infelizes, de qualquer jeito".
Antes de começar na companhia de cerveja, Brito trabalhou para Shell Oil e Daimler Benz. Depois, convenceu Lemann, que ganhou fama nos últimos anos pelas aquisições de Burger King, Heinz e Kraft, a pagar seu MBA na Universidade Stanford.
Brito subiu aos poucos e tornou-se presidente-executivo da InBev em 2005, conduzindo a companhia na tomada de controle acionário da fabricante de cerveja norte-americana Anheuser-Busch, três anos mais tarde.
Quanto ao que a integração pode trazer, dados do Glassdoor, um site em que trabalhadores classificam seus empregadores, podem ser reveladores. Eles mostram que 64% dos funcionários da AB InBev aprovam Brito, mas apenas 48% recomendariam a firma a um amigo. Na SABMiller, 88% aprovam o presidente-executivo Alan Clark, e 85% recomendariam a empresa.
Com milhões de dólares em "sinergias" a extrair da junção das operações, muitos desses funcionários que recomendam a SABMiller hoje podem estar entre os desempregados de amanhã.