Grupo expande sua influência no Oriente Médio
Enquanto Iraque e Síria lamentavam na semana passada suas derrotas diante do Estado Islâmico, com a perda das cidades de Ramadi e Palmira, o Hizbullah comemorava a tomada das montanhas de Qalamun, na Síria, uma de suas vitórias recentes mais estratégicas.
A conquista das montanhas sírias é também indício da crescente influência regional da milícia, que surgiu em 1982 apresentando-se como movimento de resistência à presença israelense em território libanês.
Com o apoio do Exército sírio, o Hizbullah expulsou de Qalamun a facção radical Jabhat al-Nusra e fincou em 13 de maio sua bandeira em Tallat Mussa, o ponto mais alto da região --que, dentro da Síria, está entre Damasco e o norte libanês.
A presença ali, em altitude privilegiada, será essencial para a superioridade militar num vasto território.
Mas a decisão de prolongar seu envolvimento no conflito sírio pode ferir o próprio Hizbullah: há risco de que os rebeldes expulsos das montanhas se reagrupem na fronteira libanesa e voltem a atacar o país ou revidem contra a capital, Beirute.
Na semana passada, diversos opositores libaneses vieram a público criticar o avanço militar do Hizbullah.
"O Líbano vai pagar a conta", diz em entrevista à Folha, em Beirute, Fadi Ahmar, professor da Universidade Saint-Esprit de Kaslik.
AUXÍLIO A ASSAD
O auxílio do Hizbullah ao Exército é visto como imperativo na Síria: apoiado pelo Irã, o grupo integra o eixo que liga Teerã, Damasco e Beirute. Em visita ao Líbano, um conselheiro do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, elogiou a "coragem" da "resistência libanesa".
A estrada de Damasco a Homs, uma das principais cidades sírias, passa por Qalamun. Assim, a vitória do Hizbullah será de grande auxílio ao regime do ditador sírio, Bashar al-Assad, em especial num mês de seguidas derrotas da Síria para o EI.
O Hizbullah está envolvido no conflito sírio desde seu início, em 2011, dizem analistas. Mas a data-chave para a participação se tornar pública foi a batalha de Qusayr (2013), vencida pela Síria com ajuda da milícia.
"A estratégia é coerente com as ações deles nos últimos anos", diz Rami Khoury, da Universidade Americana de Beirute. "É dramático. Não sabemos qual será o resultado, mas é questão importante tanto para o Irã quanto para a Síria."
O avanço do Hizbullah também preocupa o governo de Israel, que vê na milícia xiita um de seus inimigos mais letais.