Governador ataca 'oposição extremista'
Visita de ex-presidentes não significa nada para favelas, diz Capriles, que acusa mulher de opositor preso de mentir
Oposicionista rebate críticas por ter aceitado resultado de 2013, em que perdeu Presidência por margem mínima
Na continuação da entrevista, Henrique Capriles atacou a ala linha-dura da oposição e acusou a mulher de Leopoldo López, preso há mais de ano sob a acusação de instigar protestos, de mentir ao dizer que ele nunca o havia visitado na cadeia.
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Folha - O senhor se vê como líder da oposição democrática. Isso significa que existe uma oposição não democrática?
Henrique Capriles - O governo tem seus extremistas, e a oposição, também. O certo é focar os extremos ou o centro, onde estão a maioria dos venezuelanos? A maioria quer uma mudança pacífica, eleitoral e constitucional. Eu estou do lado desta maioria.
Muita gente na oposição diz que o governo nunca sairá do poder pela via eleitoral.
Então por que [López e outros] fazem greve de fome para pedir eleições? Este país mudou no dia 14 de abril de 2013 [eleição presidencial convocada após a morte de Hugo Chávez, na qual Maduro derrotou Capriles por margem mínima]. Foi aí que acabou a maioria governista.
Qualquer pesquisa mostra que 80% veem a situação como negativa. Você não acha que esses 80%, se bem organizados, podem derrotar os 20% que usam as armas e controlam as instituições? Eu, que fui vítima do abuso do Estado, creio no voto.
Muita gente o critica por ter aceitado o resultado de 2013.
O que querem que faça contra tanques e fuzis? Pegar em armas também? [O herói da independência Simón] Bolívar também recuou. Recuar não é entregar-se. Nunca porei em risco nenhuma vida que não seja a minha própria. Coragem é saber dizer não. Uma guerra civil estava tomando forma. Quem morre nessas horas? Os mais humildes.
Imagina o governo anunciando vitória da oposição na TV?
Diante de uma maioria arrasadora, o resultado terá de ser lido. E a vitória na Assembleia Nacional será o ponto de partida para mudar os rumos da Venezuela.
Imagine se aprovarmos uma lei para anistiar presos políticos. Outra lei: proibir dar petróleo de presente a outros países. Há países que não querem mudança porque a "renda-Venezuela" acabaria. Isso pode explicar o silêncio de alguns presidentes.
Como Dilma Rousseff?
Não quero pensar que ela seja pragmática a esse ponto.
Por que o senhor não visitou López na prisão nem participou de eventos com ex-presidentes que foram a Caracas apoiar os opositores presos?
Li na mídia brasileira que a mulher dele disse que eu não o havia visitado. Ela mentiu. Visitei Leopoldo e Daniel Ceballos, que foi transferido a uma prisão comum e se tornou o rosto mais emblemático da sujeira do governo. Faria qualquer coisa por eles, mas minha maior contribuição é estar todos os dias em alguma comunidade carente. Você acha que a visita de ex-presidentes significa algo para as pessoas nas favelas?