Papa afirma que Guerra do Paraguai foi 'injusta'
Em missa, Francisco elogia mulheres por reconstruírem nação derrotada
À noite, pontífice fez discurso contra ideologias e afirmou que a corrupção é a 'gangrena de um povo'
No Paraguai, última parada de sua visita à América do Sul, o papa Francisco tocou em um ponto doloroso da história do continente: a guerra em que o país foi derrotado pela aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai.
Francisco classificou o conflito de injusto, o que tem um significado especial pelo fato de o papa ser argentino.
Maior confronto armado do continente, a Guerra do Paraguai (1864-1870) dizimou grande parte da população masculina do país, o que comprometeu seu desenvolvimento econômico. O Paraguai é hoje um dos mais pobres da América do Sul.
Em uma homilia dedicada às mulheres paraguaias, no santuário da Virgem de Caacupé, padroeira do Paraguai, o papa lembrou o esforço delas na reconstrução do país.
"Com grande valor e abnegação, [as mulheres paraguaias] souberam levantar um país derrotado, afundado, submergido por uma guerra iníqua [injusta]", afirmou o papa.
A Guerra do Paraguai é um tema sensível também para a Igreja Católica. Segundo o historiador paraguaio Ignacio Telesca, autor do livro "O Clero", os padres paraguaios ""então financiados pelo Estado"" apoiaram o conflito.
Em Caacupé, a 50 km de Assunção, uma multidão de paraguaios, brasileiros e argentinos, seguiu a missa.
À noite, o papa discursou contra ideologias diante de representantes da sociedade civil reunidos no Estádio León Condou, em Assunção.
"As ideologias têm uma relação enferma com o povo, não assumem o povo. Por isso, as ideologias do século passado terminaram em ditaduras", disse.
Outro alvo de Francisco foi a corrupção, que em suas palavras é a "gangrena do povo". O papa evitou tratar do assunto como um problema particular do Paraguai --o presidente Horácio Cartes estava na plateia. "Isso se dá em todos os lugares do mundo."