Análise
Eleição nos EUA pesa mais que acordo do clima
Vitória do partido de Obama em 2016 e preservação de legado terão mais impacto global do que Conferência de Paris
Barack Obama tomou a decisão de lançar o que poderá ser o mais ambicioso plano para combater a mudança climática nos EUA: reduzir 32% das emissões de carbono de usinas termoelétricas até 2030, tendo como base 2005.
É uma meta significativa no contexto estadunidense –com um Congresso dominado pelos conservadores– embora limitada, se considerado que a União Europeia pretende reduzir suas emissões totais em 40% até 2030, tomando como base 1990 (meta aproximadamente 60% maior que a americana).
Uma caraterística importante da apresentação do plano de Obama é enfatizar sinergias com a melhoria da saúde pública, o aumento de competitividade, a criação de empregos, o empoderamento de setores mais pobres e a liderança global dos EUA.
O plano sofrerá forte oposição em muitos Estados e no Congresso, e a implementação de grande parte dele, provavelmente, acabará sendo decidida na Suprema Corte.
De qualquer modo, diferentemente de períodos recentes da história dos EUA, há apoio da opinião pública (cerca de 65%, segundo pesquisa Pew/Universidade de Stanford, de janeiro) e de vastos setores empresariais que internalizaram, nos últimos anos, a transição para uma economia de baixo carbono.
Os grandes opositores serão a indústria do carvão, a maioria das empresas petroleiras, os centros de estudos financiados por elas e o Partido Republicano.
O plano terá influência decisiva na campanha presidencial de 2016 e também nas campanhas legislativas. Até hoje, a mudança climática só teve importância significativa em 2008, quando ambos os candidatos, Obama e John McCain, eram favoráveis a enfrentar a mudança climática.
Desde o surgimento do movimento Tea Party (2009), porém, o Partido Republicano tornou-se um bastião fanático de negação da mudança climática causada pelo homem, o que influenciou agendas eleitorais conservadoras.
Na reeleição, em 2012, Obama fugiu do tema, temendo influência negativa nos decisivos Estados de Ohio, Michigan, Pensilvânia e Flórida.
Nas primárias de 2016, os dois principais pré-candidatos democratas –Hillary Clinton e o senador Bernie Sanders– prometem aprofundar a política de Obama, que atrai forte apoio da juventude.
ESCALA GLOBAL
O novo plano busca também aumentar a influência americana na Conferência do Clima de Paris em dezembro.
De um lado, constrangendo os outros grandes (China, Índia, Rússia, Japão, Brasil e Indonésia) e médios emissores a assumirem compromissos mais ambiciosos; e, de outro, disputando a liderança da conferência com seu líder histórico, a UE, e retomando a posição mantida até 2000, perdida a partir do governo de George W. Bush.
Contudo, a definição deste processo de reposicionamento dos EUA na arena global da descarbonização da economia dependerá da vitória do partido de Obama nas eleições presidencial e legislativa de novembro de 2016. A primeira parece provável hoje. A segunda é mais difícil, mas sua probabilidade cresce com o apoio ao combate à mudança climática.
Do ponto de vista da dinâmica profunda do sistema internacional, mais importante que o resultado específico da Conferência de Paris será a vitória generalizada dos democratas em 2016.
O mundo entraria, com isso, num novo ciclo de transição para uma economia de baixo carbono, particularmente pelo impacto da nova dinâmica americana sobre os outros grandes emissores.