Corrupção não é raiz de problemas do país, diz candidato
Para Manuel Baldizón, que estava em segundo nas pesquisas, Estado se fragilizou ante grandes corporações
Empresário do ramo hoteleiro, Manuel Baldizón, 45, foi derrotado nas urnas pelo ex-presidente Otto Pérez Molina em 2011. Seu partido, o direitista Líder, é a segunda força no Congresso da Guatemala, com 28 deputados.
Evangélico e com um discurso de forte tom nacionalista, o advogado tem sua candidatura em risco desde que seu vice passou a ser investigado no mesmo caso de corrupção que causou a renúncia de Pérez Molina.
Leia trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
Folha - Vários países da região vivem clima de tensão política –Brasil, Equador e Guatemala entre eles. Que propostas têm para estabilizar seu país?
Manuel Baldizón - O pano de fundo dessa crise não é apenas a corrupção, mas uma dinâmica da política exterior e um confronto de poderes emergentes que tentam tornar-se independentes das grandes economias arraigadas no nosso continente.
A corrupção tem sido um terrível obstáculo para nossos países, mas não é a raiz dos nossos problemas. Nossos Estados estão enfraquecidos e reduzidos, o que fez com que houvesse uma cooptação do espaço por parte de grandes corporações.
Essas mesmas estão promovendo a cultura da corrupção. Não há apenas corruptos, mas corruptores, que raramente aparecem.
A Guatemala é a principal economia da América Central. Qual é sua proposta para continuar crescendo num cenário internacional mais complexo?
Nosso maior problema não é econômico, mas sim sociopolítico. Os grandes conflitos de nossa história estão se agravando. Faltam certeza jurídica e segurança. O pouco investimento em infraestrutura, em saúde e em educação nos coloca em desvantagem.
Minha principal proposta na área econômica é abrir mais relações comerciais com países emergentes, nos tornando um local estratégico de investimento. Isso faria com que a economia local se abrisse. Temos um pequeno grupo de corporações que monopoliza a produção e a dinâmica de consumo interno.
Pretendo investir no desenvolvimento do turismo para que se transforme na ponta de lança da economia nacional. Somos o berço do Império Maia e poderíamos explorar isso melhor.
Como melhorar o clima depois de meses tão conturbados?
Nesse momento de tensão, é preciso buscar paz por meio do diálogo. E especialmente por meio da inclusão das grandes maiorias marginalizadas, em cujas terras ocorre exploração privada. É preciso investir em saúde, educação e infraestrutura, para trazer paz social. Com a paz social, traremos mais investimentos.
Ainda que o país venha tendo um crescimento constante do PIB há duas décadas, ainda há muita pobreza. O sr. é a favor do programa "Hambre Cero", muito parecido com o "Fome Zero" brasileiro, implementado por Otto Pérez Molina?
Nossa política econômica está baseada no investimento social. Mas também precisamos de uma reestruturação do sistema tributário, que o atual governo desequilibrou.
A corrupção e a evasão quase quebraram nosso Estado, deixando-o sem possibilidades de investir. Enquanto não resolvermos isso, não poderemos pensar numa justa distribuição das riquezas.
Como vê a democracia hoje na Guatemala?
Temos uma estabilidade democrática relativa. Demos continuidade a processos democráticos eleitorais, mas nunca criamos espaço participativo real da cidadania. Os grandes poderes econômicos mantiveram o controle dos três organismos do Estado.
Precisamos de uma reforma profunda do Estado e das leis, começando pela eleitoral e dos partidos políticos.
Se for eleito presidente, qual será sua relação com os outros países da América Latina? Tem proposta para reforçar laços com Brasil e Mercosul?
A Guatemala tem uma posição geopolítica estratégica, pela proximidade com os EUA. Isso tem um lado bom, porém representa ameaças para nossa política exterior.
Quero abrir nossa economia em especial para Colômbia, Brasil, Equador e Chile. E com estes ser uma ponte viável para conectar as economias do sul aos grandes mercados da América do Norte.