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Deseducação eleitoral
A presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ambos reeleitos no ano passado, parecem envolvidos numa inglória disputa para descobrir quem se afasta mais do que prometeu na campanha.
A competição não se limita aos temas mais abrangentes e notórios, como a guinada da petista na economia e no setor elétrico, ou a mudança de discurso do tucano em relação ao racionamento de água. Também as diretrizes de programas específicos denunciam o estelionato eleitoral. O exemplo mais recente está na educação.
Como já se observou neste espaço, o governo Dilma contrariou sua propaganda ao alterar regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Baixadas por decreto, as novas diretrizes resultarão na retração da iniciativa --para desengano dos muitos jovens que acreditaram nas juras de expansão.
A gestão Alckmin não ficou atrás. Nesta semana, a Secretaria da Educação avisou que, "em razão da rearticulação das ações governamentais", haverá um corte na oferta de vagas de ensino técnico aos alunos da rede estadual.
Em vez dos habituais 20 mil novos postos por semestre no programa chamado Vence, por enquanto serão criados 10 mil lugares. Procurada por esta Folha, a secretaria informou que outras 10 mil vagas devem ser abertas ao longo do ano.
Na melhor das hipóteses, será reduzido à metade o número de novos estudantes beneficiados com o curso técnico gratuito; na pior, a diminuição será de 75%. Muito distante, em qualquer um dos casos, do que o tucano anunciou quando buscava conquistar votos.
Em agosto do ano passado, após visitar como governador uma escola credenciada no Vence, Alckmin vestiu a camisa de candidato e divulgou sua intenção de, até o fim de 2015, quase dobrar o alcance do programa, que então computava 65 mil participantes. "Nós pretendemos elevar o número de vagas para 120 mil", disse o tucano.
Ao renegar o compromisso, o governador ainda criou um problema prático. De acordo com uma instituição parceira do Vence, as inscrições para este semestre haviam sido feitas levando em conta 20 mil lugares. Ou seja, metade dos alunos precisará ser dispensada.
De forma tácita ou explícita, Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin se igualam ao justificar o descumprimento de promessas com base na necessidade de conter despesas. Vinda de governantes que não conhecessem a máquina pública, a desculpa já seria esfarrapada; vinda de quem há tanto tempo desfruta do poder, soa como um escárnio.