Escândalo na Petrobrás
Delator diz ter ganho US$ 1,5 mi de lobista
Ex-diretor afirmou que valor foi pago por operador ligado ao PMDB para que ele desse aval à compra de refinaria
Segundo o ex-diretor, 'boatos' indicavam que propina para fechar o negócio ficou entre US$ 20 mi e US$ 30 mi
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou à Polícia Federal que recebeu do lobista Fernando Soares, descrito como operador do PMDB, um total de US$ 1,5 milhão para "não causar problemas" na definição da compra, pela Petrobras, de uma refinaria em Pasadena, no Texas (EUA).
A aquisição que custou à estatal cerca de US$ 1,18 bilhão e que gerou, segundo o Tribunal de Contas da União, prejuízo de US$ 792 milhões, foi questionada por diversas áreas de controle.
A compra foi aprovada pelo Conselho de Administração da empresa, na época presidido por Dilma Rousseff.
Segundo o próprio delator, o valor que recebeu em propina pelo negócio foi depositado a ele entre 2007 e 2008 em uma conta no paraíso fiscal de Liechtenstein, para onde viajou com Soares, conhecido como Fernando Baiano. O valor do pagamento de propina a Costa havia sido revelado pelo "Jornal Nacional".
Costa ficou em dúvida, mas disse acreditar que o "valor tenha sido bancado pela Astra Petróleo". A Astra era sócia da Petrobras em Pasadena.
No depoimento à PF, Costa disse que "havia boatos na empresa de que o grupo do ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, incluindo o PMDB e Baiano, teria dividido entre 20 e 30 milhões de dólares, recebidos provavelmente da Astra".
Costa revelou que Baiano "tinha uma boa circulação entre todos os partidos, por exemplo, seu amigo José Costa Marques Bumlai era uma pessoa muito ligada ao PT". Bumlai é produtor rural e amigo do ex-presidente Lula.
Segundo o ex-diretor da Petrobras, Baiano tinha também proximidade com o presidente da holding empreiteira Andrade Gutierrez, Otavio Azevedo. Ele relacionou a Andrade Gutierrez como uma das empresas que fazia pagamento de vantagens indevidas.
Procurado, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, afirmou que as declarações de Costa "devem ser avaliadas com reservas" porque ele "estava sob pressão" ao assinar a delação. O advogado também diz que Cerveró nega ter recebido propina e que, no caso de Pasadena, seu cliente não tinha poder de decisão.
A Andrade negou e repudiou as acusações, "baseadas em ilações" feitas por Costa. Afirma que não tem envolvimento com os fatos relacionados à investigação e que nunca fez parte da qualquer acordo de favorecimento envolvendo partidos e a Petrobras.
A Folha não encontrou na noite desta quinta-feira (22) o advogado de Baiano. Bumlai também não foi localizado para comentar a menção a seu nome.