Petrolão
Ex-diretor pediu doação ao PT como propina, diz delator
Segundo empresário, Renato Duque solicitou que parte de 'comissão' fosse paga em contribuições oficiais à sigla
Advogado de ex-sócio de Youssef afirma que irá pedir a anulação do acordo de delação premiada do doleiro
Em depoimento prestado ao juiz federal Sergio Moro na segunda (2) e divulgado no dia seguinte, o empresário e delator Augusto Ribeiro de Mendonça Neto disse que Renato Duque, ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras, requisitou que parte da propina sobre contratos da estatal fosse paga em "contribuições oficiais ao PT".
"Uma época, o diretor Duque pediu para que fizesse contribuições oficiais ao PT e eu as fiz", disse. "Era decorrente da comissão que eu havia combinado com ele."
Mendonça Neto admitiu ter pago propina também a outro ex-diretor, Paulo Roberto Costa (Abastecimento). "Eles me pediram, no caso do Paulo Roberto, 1%, e no caso do Renato Duque, 2%. Sobre o valor do contrato", afirmou.
Indagado pelo Ministério Público Federal se pagou as comissões, o acionista da Toyo Setal confirmou o que havia narrado em depoimento dentro do acordo de delação fechado no ano passado com a força-tarefa da Lava Jato. Ele disse que teve "dois contratos obtidos" com o pagamento de "comissões".
Mendonça Neto reafirmou ter sido pressionado pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010, para que pagasse as "comissões".
Outro executivo da Toyo Setal, Júlio Gerin de Almeida Camargo, também prestou depoimento a Moro na segunda. Ele disse ter repassado R$ 12 milhões a Duque e a Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia. Camargo disse que essa é "a regra do jogo".
O empresário admitiu ter intermediado contratos em duas obras da Petrobras, o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), em Itaboraí (RJ), e a Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), em Araucária (PR).
Na obra da Repar, representou o consórcio CCPR, da Camargo Corrêa e da Promon. Os dois contratos do consórcio, datados de 7 de julho de 2008, somam R$ 2,7 bilhões, de acordo com documentos da estatal. Camargo diz ter pago R$ 12 milhões em propina, ou 0,4% do total.
Procurado, o PT disse que "todas as doações feitas ao partido são na forma da lei". Segundo a sigla, em outra ocasião Mendonça Neto disse que não informou que a doação teria relação com negócios da Toyo com a estatal.
PEDIDO
O advogado do empresário Leonardo Meirelles, ex-sócio de Alberto Youssef, disse que pedirá a anulação do acordo que o doleiro tem com o Ministério Público Federal.
"Provavelmente vamos pedir [a anulação] nas alegações finais", disse o advogado Haroldo Nater, nesta terça-feira (3), na sede da Justiça Federal em Curitiba, após o depoimento de seu cliente.
À Folha Meirelles disse que Youssef não declarou todo o patrimônio no acordo. Ele diz que o doleiro tem de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões, e não R$ 50 milhões.