Petrolão
Convocado por CPI, Cardozo diz não se sentir abandonado
PT não evitou que ministro da Justiça fosse chamado a depor na Câmara
Ministro afirma não ver problemas em convocação e diz que recebeu manifesto de apoio de deputados
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta sexta-feira (10) não estar surpreso nem ver problemas em ter sido convocado para depor na CPI da Petrobras.
O depoimento está marcado para a próxima quarta (15).
Segundo a Folha apurou, integrantes do governo procuraram deputados do PT para desmobilizar a manobra.
Porém, diante da fragilidade do Planalto, ouviram que seria impossível barrar todas as convocações de petistas e que alguém seria sacrificado.
De acordo com o ministro, a ida de seus assessores ao Congresso é "procedimento padrão" para lembrar que as informações também podem ser dadas por meio de convite ou de visita ao ministério.
"Se o Parlamento preferir convocação, que seja. Se preferir vir aqui, que venham. E se for um convite, eu vou. Não vejo absolutamente problema nenhum", disse.
Cardozo afirmou que não se sente abandonado pelo PT. Nos bastidores, o ministro é criticado por não "frear" a atuação da Polícia Federal na Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras.
"Tenho visto pelo jornal que algumas pessoas não se agradam e acham que eu perdi o controle. Acho engraçado, porque só se perde algo que se tem", disse.
"Eu não devo controlar a PF no mérito da investigação, mas a supervisão hierárquica de eventuais desmandos administrativos."
"Já recebi da bancada de deputados do PT um manifesto de apoio", completou.
O ministro negou que a falta de articulação política do governo tenha sido responsável pela situação.
"É absolutamente normal. Se querem esclarecimentos, se há coisa a esclarecer, irei com grande prazer", disse.
Questionado se o depoimento pode prejudicar o PT, Cardozo respondeu de forma genérica. "[Sobre] aquilo que está sob sigilo eu não tenho conhecimento. O que não está, eu tenho conhecimento. Não vejo que eu possa, sob esse aspecto, fazer juízo de valor sobre esse partido ou qualquer outro. Ninguém deve temer nunca a verdade."
'ESQUIZOFRENIA'
Para ele, as críticas a sua postura chegam a ser "esquizofrênicas".
"Recentemente, teve um episódio que envolvia cartel nos metrôs de São Paulo, e alguns parlamentares de oposição estavam dizendo que eu estava instrumentalizando a PF. Alguns acham que eu estou instrumentalizando e outros acham que eu não a controlo. Nem uma coisa, nem outra. Esse não é meu papel."
Cardozo afirmou que não decide quem deve ser investigado e quem não deve.
Ele também disse que o Ministério da Justiça deve permitir a autonomia das investigações. "O que eu posso fazer é, diante de indícios de abusos, determinar investigações. Como é o caso das escutas", exemplificou.
Policiais ouvidos pela CPI da Petrobras neste mês afirmaram que um grampo foi instalado na cela do doleiro Alberto Youssef, delator da Operação Lava Jato, sem autorização judicial.
O relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), disse o requerimento a Cardozo tinha como objetivo explicar dúvidas levantadas pelos policiais.