Petrolão
CPI mantém convocação e quer que advogada revele quem a ameaçou
Para presidente da comissão, Catta Preta pode estar se vitimizando para esconder atos ilícitos
Criminalistas que atuam na Lava Jato dizem que responsável por delações teme exposição do marido
O presidente da CPI da Petrobras, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), disse nesta sexta-feira (31) que a convocação da advogada Beatriz Catta Preta para depor na comissão está mantida e cobrou que ela diga quem a ameaçou.
Responsável por firmar nove acordos de delação premiada de réus da Operação Lava Jato, a advogada disse ao "Jornal Nacional" na quinta-feira (30) que deixou o caso e decidiu abandonar a advocacia porque se sentiu ameaçada por integrantes da CPI, sem citar nomes.
Motta lançou suspeitas de que Catta Preta esteja se vitimizando para esconder "talvez alguns atos ilícitos que ela tenha cometido no âmbito do processo da Lava Jato".
A CPI aprovou em 9 de julho a convocação de Catta Preta para que ela explique a origem de seus honorários na Lava Jato. O STF, porém, concedeu a ela o direito de se manter calada sobre a questão.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou como grave a denúncia da advogada em sua entrevista e disse que o Ministério Público vai apurar o caso.
INTERPELAÇÃO
Em evento no Rio, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse que a mesa da Câmara precisa entrar com um pedido de interpelação judicial contra a advogada.
"Ela diz que tem prova de tudo. Cabe à mesa da Câmara fazer a chamada interpelação judicial, para que ela traga à baila e identifique se houve ameaças e quem as cometeu", disse.
Para criminalistas que atuam na Operação Lava Jato, um dos temores da advogada seria ver exposto na CPI a atuação e o passado de seu marido, Carlos Eduardo de Oliveira Catta Preta.
FINANÇAS
Apontado por alguns ex-clientes de Catta Preta como comerciante e por outros como engenheiro, Carlos tem papel essencial no escritório, mesmo não sendo advogado. Ele comandaria, segundo relatos, a parte financeira do escritório da mulher, que agora foi fechado.
Segundo ex-clientes de Catta Preta ouvidos pela Folha, ele apresentava os orçamentos, fazia cobranças de honorários, e, em alguns casos, prospectava negócios.
Colegas que conviveram com a advogada no início da carreira contam que o casal se conheceu em 2001, quando Catta Preta atuou como defensora de Carlos. Ele foi flagrado com US$ 400 mil em notas falsas e disse à polícia que usou as cédulas para diminuir o prejuízo de uma negociação que tinha feito com indianos que lhe repassaram dinheiro falso. Carlos foi condenado a três anos em regime aberto.
Nos bastidores do meio jurídico, advogados atribuem às intervenções de Carlos parte da capacidade de Catta Preta de atrair clientes que antes eram defendidos por outros profissionais. A Folha não conseguiu contato com a advogada.