Análise
Atos contra governo têm boas e más notícias para todos
Se não trouxe o impeachment para mais perto do Palácio do Planalto, o terceiro ato das ruas contra Dilma Rousseff lembra o governo sobre o potencial de mobilização que a causa da rejeição à atual gestão possui.
A rigor, todos os atores deste domingo (16) têm o que comemorar.
Sob a ótica palaciana, a boa notícia é que os protestos foram grandes, mas não gigantescos a ponto de deixar o Planalto de cabelo mais em pé do que já está. Há protestos espraiados por todo o país, mas o grosso da manifestação ficou no esperado eixo São Paulo-Rio-Brasília.
Há a percepção de um evento dominical e sazonal, que transforma a pressão sobre o Planalto em algo que vem das ruas apenas de forma periódica –nada de "vigílias cívicas" ou a constância dos meses finais de Collor na Presidência em 1992.
O lado negativo para Dilma é justamente a existência desse movimento e sua perenidade, além de uma maior capilaridade. Há eletricidade no ar, e nada garante que o descontentamento não explodirá com a menor fagulha advinda da Operação Lava Jato.
Como o domingo mostrou, Dilma e seus 8% de popularidade mais o antipetismo radical são fermentos à espera de um catalisador. Como a presidente já tem uma montanha de problemas, a sensação de fragilidade segue inalterada.
Do lado da oposição, houve uma novidade. Enfim algum líder opositor, no caso o senador Aécio Neves (PSDB-MG), deu as caras e não sofreu rejeição como temia.
Claro que foi uma aparição calculada, de quem não tinha opção após ter convocado apoio ao protesto e em seu elemento mineiro, mas foi uma etapa nova.
Por outro lado, essa vitória discreta não escamoteia o fato de que a oposição segue a reboque das ruas e sem saber exatamente como lidar com o estoque de dinamismo antigoverno à disposição.
Isso tem muito a ver com a falta de um discurso claro e a contaminação do humor da rua pelo "espírito de junho", que desde as megamanifestações daquele mês de 2013 apontam para um descontentamento generalizado e de caráter apartidário.
Significativa, pois, foi a presença do apoio ostensivo ao juiz que conduz a Lava Jato, Sergio Moro, e não a nenhum nome da oposição.
Atos sazonais e que dependem de mobilização na internet parecem condenados ao mesmo escaninho da análise dos "curtir" do Facebook: aglutinadores de pessoas que pensam parecido e que falam a mesma "verdade".
Com a diferença de que o potencial de mobilização parece ultrapassar quaisquer grupos de rede social ou de claques pagas.