Natureza e nostalgia movem passeios de trem pelo Brasil
Associação cria projeto para recuperar e implantar 21 rotas turísticas no país
Passageiros conhecem estações restauradas e a operação de marias-fumaças ao som de músicas de cada região
Uma taça de vinho dá as boas-vindas, celebradas ao som de forró, música sertaneja e canções italianas.
No Rio Grande do Sul, o Trem do Vinho, que percorre Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa, recebe os passageiros com a bebida característica da serra gaúcha para um passeio de duas horas ao embalo de músicas típicas do Estado.
O friozinho é amenizado pelo som de acordeonistas e de um conjunto de dança, enquanto a maria-fumaça de 1941 segue seu rumo.
Para tentar atrair público e alavancar o transporte de passageiros em trens turísticos, cidades aliam natureza ao charme da maria-fumaça e às características de cada região.
O Brasil está, hoje, em 14º lugar na lista de países com o maior número de rotas turísticas ferroviárias, segundo a Abottc (Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais)
São 31 passeios: dos 800 m de extensão de Paranapiacaba (SP) aos 70 km da Serra do Mar paranaense. Desses, 21 integram um projeto que tem como meta impulsionar a retomada da modalidade no país --cinco ainda estão em implantação. O setor aposta em alta demanda --já há rotas com lotação esgotada para as férias de julho.
Feitos em trilhos uma vez usados no transporte de cargas, os passeios têm como ponto comum a baixa velocidade dos trens --máximo de 25 km/h-- e o clima nostálgico de vagões restaurados.
Em Garibaldi, região com 102 anos de elaboração de espumantes, o trem é, junto com as mais de cem vinícolas, a principal atração.
O Trem das Termas, que percorre 50 km entre Piratuba (SC) e Marcelino Ramos (RS), existe há 12 anos. Inaugurado com vagões "de segunda classe" --com bancos de madeira--, foi ganhando luxo ao longo dos anos.
Hoje, nas três horas de passeio, os turistas viajam em bancos estofados.
Com operação só aos sábados, o trem transporta cerca de mil passageiros por mês, em um trecho que já fez parte de uma rota internacional e cruza uma ponte metálica construída em 1913. Assim como no Trem do Vinho, os vagões viram palco de espetáculos de música e teatro.
Em São Paulo, a maria-fumaça Campinas-Jaguariúna permite aos passageiros entender o funcionamento da locomotiva a vapor, com a lenha sendo queimada.
No passeio, os turistas conhecem seis antigas estações ferroviárias do auge cafeeiro (que durou até a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929); quatro foram restauradas.
Há, também, rotas sazonais, como o Trem do Forró, de Pernambuco, que opera nos meses de junho e transporta 1.200 passageiros por viagem. Nele, os viajantes são recebidos em cada vagão com um trio de músicos (sanfona, triângulo e zabumba).
AMBIÇÃO
O investimento no projeto turístico-ferroviário --que tem parceria com o Sebrae-- é de R$ 4 milhões e inclui a criação de uma central on-line de reservas de bilhetes.
A meta é desenvolver o setor e evitar que turistas encontrem as cabines de venda nas estações fechadas.
Hoje, os trens turísticos transportam 3 milhões de passageiros por ano, segundo a Abottc. A intenção é que, em dez anos, o número triplique, principalmente pelo potencial de vias abandonadas da malha ferroviária.