CRÍTICA
'Amy' revela o que há de belo e de falho na existência humana
Quando as coisas começaram a dar errado? Foi quando ela se apaixonou por um cara chamado Blake e entrou em uma relação de dependência e destruição?
Ou foi antes disso: quando os pais se divorciam com ela ainda criança? Ou quando ela desenvolveu bulimia por se achar gorda na adolescência?
Pode também ter sido mais tarde: quando ela disse não para o rehab? Ou ainda quando ela fez um sucesso para o qual não estava preparada e passou a ser vergonhosamente perseguida por paparazzi?
Em que momento a vida de Amy deixou de ser promessa para se tornar um fardo? Essa é a questão que martela ao longo do tristíssimo "Amy" –e que o documentário tem a sabedoria de não responder.
O diretor inglês Asif Kapadia ("Senna") evita impor um olhar pessoal ao seu personagem e deixa as perguntas –e a impossibilidade das respostas– ao espectador.
Seu método é reunir todo o arquivo e o máximo de vozes possível sobre o tema e editar o material de forma quase sempre cronológica, sacrificando a originalidade em nome da ordem.
Quando "Amy" fica com cara de telefime (sobretudo no uso de música dramática para acentuar passagens dramáticas), a força do personagem carrega o documentário.
Amy foi aquilo que o crítico Jean-Claude Bernardet chama de "pessoa-laboratório", um ser que concentra as contradições humanas em níveis radicais para que nós possamos vivê-las de forma razoável.
Nesse sentido, seu drama é específico (garota judia com talento sobrenatural e pendor para a autodestruição) e universal (revela o que há de belo e falho na existência humana).
Como Amy, mas em menor grau, todo mundo brilha e se desespera. E ao ver (e rever) uma Amy doente ser perseguida por paparazzi e ridicularizada nós nos tornamos cúmplices de uma sociedade do espetáculo igualmente dodói.
Amy só tem uma. E somos todos Amy. Em ambos os casos, um espetáculo bonito e devastador. Quando as coisas começaram a dar errado?
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