CRÍTICA
Ensaio 'Como Conversar com um Fascista' é antídoto para barbárie
"Como Conversar com um Fascista", de Marcia Tiburi, é um antídoto contra a barbárie: "Vivemos em tempos fascistas, tempos em que há muitas práticas de morte, morte por descaso e assassinato, e pouca ou nenhuma reflexão sobre ela".
Professora de filosofia do Mackenzie, Tiburi diz que "não podemos fingir que nada está acontecendo": a democracia está ameaçada, é preciso reagir. Como? Dialogando, pois o "diálogo é a forma específica do ativismo filosófico".
A grande dificuldade, porém, reside aí: o fascista perdeu "a dimensão do diálogo". Autoritário, é incapaz de entabular uma comunicação verdadeira, pois apagou a dimensão do outro, afirma a autora.
Como diz Norberto Bobbio ("Direita e Esquerda"), a direita acredita que os indivíduos são essencialmente desiguais. Os fascistas vão além, pois consideram que essa desigualdade também deve reger a linguagem: os diferentes têm de ser silenciados.
Carlos Cecconello/Folhapress | ||
A filósofa Marcia Tiburi posa para foto em sua casa, no bairro do Higienópolis, em São Paulo |
Inspirada no pensador alemão Theodor Adorno, Tiburi argumenta que a violência nasce dos meios de comunicação de massa, sobretudo da TV. "Não nos enganemos, a televisão é uma experiência intelectual, uma experiência de conhecimento, só que empobrecida. A televisão opera com a nossa inveja".
Ora, "a inveja é um tipo de desejo impotente": "Ele olha para o invejado e se sente menor, daí sua raiva, o seu rancor... Ele não pode ser outra pessoa, ele não pode ser melhor do que é".
A TV prega o ódio todos os dias: "coisas estarrecedoras com alto teor performativo". Esse teatro autoritário é ridículo, mas eficaz. "Quem estudou a história do nazismo sabe das performances políticas bizarras de Hitler e seus apoiadores. Hitler parecia uma criança que, tendo crescido, continuava abusada e mimada como todo paranoico".
Como Conversar com um Fascista |
Marcia Tiburi |
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O fascismo se apoiaria nessa regressão coletiva: a rebelião contra a autoridade (2013) abriu caminho para a submissão ao autoritarismo (2015): "A personalidade autoritária não reconhece nada fora dela mesma... Nada pode ser contra seu modo de pensar, de sentir e de ver o mundo. O que o eu autoritário –e mimado– quer é impor-se como centro do mundo".
Contra o ódio, resta o diálogo: se ele "não alcançar sucesso na arte de conversar com um fascista, que possa nos afastar do fascismo em nossa própria autoconstrução".
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