Audiovisual do Brasil é sexista, diz pesquisa de ONG de Geena Davis
Geena Davis, 60, quer um mundo em que as mulheres sejam cada vez mais como Thelma, sua personagem no filme "Thelma & Louise" (1991). À frente da instituição que leva seu nome, ela milita há 25 anos para que a indústria do entretenimento priorize histórias como a de sua personagem mais famosa, uma dona de casa transgressora que abandona a monotonia do lar e cai na estrada.
Nesta terça (8), a ONG chega ao Brasil: executivas do Instituto Geena Davis se reunirão com o mercado durante a semana para apresentar um trabalho inédito sobre a percepção das desigualdades de gênero na mídia nacional.
Divulgação | ||
Geena Davis (dir.) e Susan Sarandon, em cena do filme "Thelma & Louise" |
O objetivo é evidenciar o abismo entre as conquistas das brasileiras na sociedade (no comando de 37% dos lares, segundo o IBGE) e o modo como a TV e o cinema as representam: para 70% dos entrevistados, ainda em papéis tradicionais (esposa, dona de casa) e hipersexualizados.
Os dados integram uma pesquisa encomendada pela ONG ao instituto de pesquisas americano Gallup, em parceria com a Uerj (Universidade do Estado do RJ). Foram 2.000 entrevistas nas principais regiões metropolitanas do país, em dezembro de 2015.
Por telefone, Geena explica que o Brasil é um dos nove países observados por sua instituição – China, África do Sul, Reino Unido e França também–, por constituir um dos principais mercados de entretenimento no mundo.
"Queremos melhorar o status que uma mulher pode ter globalmente. Uma boa maneira é mostrar garotas realizando coisas importantes, vivendo aventuras, protagonizando histórias e tomando seu espaço no mundo", conta a intérprete de Thelma.
A atriz será representada por Madeline Di Nonno, diretor do instituto, e Deborah Calla, roteirista brasileira radicada nos EUA e conselheira da ONG. O trabalho será semelhante ao de Hollywood: mostrar a produtores dados sobre como o entretenimento reforça preconceitos (veja ao lado).
"A reação mais comum é as pessoas ficarem chocadas. Todo mundo inconscientemente reproduz preconceitos de gênero, parece normal até que alguém chame a atenção para isso", comenta Geena.
Para ela, o melhor exemplo recente de como as discussões sobre gênero têm impactado a indústria é o último "Star Wars" –com Rey (Daisy Ridley) entre os protagonistas, o longa se tornou a terceira maior bilheteria da história e provou que é possível conquistar o público de aventura com uma mulher em um papel de destaque.
Elena Dorfman/Lucasfilm | ||
A heroína Rey (Daisy Ridley), de "Star Wars - O Despertar da Força" |
Por aqui, as executivas terão muito o que conversar. Em novembro, um levantamento da Folha apontou que, em 20 anos, mulheres dirigiram só 16,5% dos filmes.
Em dezembro, uma petição on-line reuniu 30 mil assinaturas pedindo a retirada do "Pânico" (Band) do ar, após um repórter lamber uma entrevistada. O programa, que costuma marcar 5 pontos no Ibope da Grande São Paulo (cada ponto equivale a 69 mil domicílios), exibe quadros em que o elenco feminino (as "Panicats") escorrega, de biquíni e em câmera lenta, em uma lona com água e sabão.
Mas há também bons exemplos no ar. A novela das 21h "A Regra do Jogo" (Globo) termina na sexta (11) tendo exibido histórias como a da dona de casa Domingas (Maeve Jinkins), que superou uma situação de violência doméstica.
Apesar de protagonizado por um homem, o ator Alexandre Nero, o folhetim de João Emanuel Carneiro mostrou mulheres complexas e poderosas, como a estelionatária Atena (Giovanna Antonelli) e a ex-prostituta Adisabeba (Suzana Vieira), a "dona do morro" da Macaca, onde se passa parte da trama.
"As novelas se entregam muito fácil ao lugar-comum", comenta o autor, que planeja uma próxima trama "bem feminina": "A mulher é o coração e a emoção da novela".
Editoria de arte/Folhapress | ||
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