Na contramão da recessão, brasileiros têm sólida presença no Anima Mundi
Num ano marcado por crise, polarização e baixo astral, chega nesta quarta (2) a São Paulo um daqueles pequenos momentos de respiro que servem para ajudar a tirar o ânimo do volume morto: o 24º Anima Mundi, maior festival de animação do país.
Com mais de 400 filmes (curtas e longas, nacionais e estrangeiros) e oficinas, o evento também serve como antídoto para o pessimismo porque sinaliza que a produção brasileira de animações está na contramão da recessão.
Com a lei do conteúdo nacional forçando a demanda por produções locais para a TV, os estúdios ainda não sentiram os efeitos da crise. "Temos uma gordura de uns dois anos para queimar", diz Cesar Coelho, um dos diretores do Anima. "Por ora, as produções estão aumentando."
A atual edição terá 108 filmes nacionais, com técnicas e temas variados.
Há, por exemplo, adaptações literárias como a kafkiana "O Ex-Mágico", de Olímpio Costa e Maurício Nunes, baseada em conto de Murilo Rubião, e "A Orelha de Van Gogh", de Thiago Franco Ribeiro, com base em texto de Moacyr Scliar.
Um dos grandes destaques desta edição é a participação do paulista Leo Matsuda, que trabalha na Disney desde 2008 e vai apresentar seu curta "Trabalho Interno", que acompanhará o próximo longa do estúdio, "Moana: Um Mar de Aventuras" (este, com estreia prevista para 5 de janeiro).
Inspirado por aquelas páginas transparentes de anatomia humana encontradas nas velhas enciclopédias, o bem-humorado curta mostra a disputa entre o lado racional e disciplinado e o lado liberal e aventureiro do ser humano. Nipo-brasileiro, Matsuda diz ter se inspirado em sua própria dicotomia interna para criar a história.
Temas de ordem pessoal também surgem em outros curtas brasileiros, como o singelo "O Projeto de Meu Pai", de Rosaria, e o dramático "Quando os Dias Eram Eternos", de Marcus Vinicius Vasconcelos.
ANIMAÇÃO 360º
Como de praxe, o Anima Mundi também aponta para o futuro das tecnologias de animação. Nesta seara, estão em alta os desenhos em 360º e com realidade virtual para celulares.
É com isso que trabalha um dos convidados internacionais desta edição, o americano Cassidy Curtis, 45, diretor técnico de arte do projeto Google Spotlight Stories.
Disponível on-line e em aplicativo para celulares, o projeto oferece animações interativas cuja ação acontece simultaneamente em 360º. Há também alguns curtas –como um dos Simpsons– que usam realidade virtual e demandam óculos especiais para se ter a experiência completa.
Segundo Curtis, o processo de criação (e o tempo gasto nela) é similar ao de outras formas de animação. A diferença é que, como a história pode ser acompanhada de qualquer ângulo –e não num quadro fixo, como no cinema ou na TV–, é preciso que haja ação em todos os quadrantes.
"Você tem que pensar mais como uma peça do que como um filme, porque não sabe para onde as pessoas vão estar olhando. Então, o trabalho se torna mais o de guiar a atenção dos espectadores, usando truques para encorajar que elas sigam a história numa direção", diz o diretor.
Ele dará uma aula para animadores brasileiros nesta quinta (3), como já fez na perna carioca do festival. "Esse espírito de experimentação está bem vivo aqui no Brasil, e isso estimula ideias."
ANIMA MUNDI
QUANDO de hoje (2) a 6/11
ONDE Cinemateca Brasileira, Caixa Belas Artes e outros
QUANTO R$ 12
PROGRAMAÇÃO COMPLETA animamundi.com.br
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