Fotógrafo leva retratos de haitianos que vivem em Curitiba a parentes
Fotógrafo leva retratos de haitianos que vivem em Curitiba a parentes
Quando fazia fotos para uma reportagem sobre maus-tratos denunciados por um haitiano em Curitiba, em 2014, Brunno Covello, 32, não imaginava que se tornaria uma espécie de mensageiro da comunidade de imigrantes.
"Ali, senti uma angústia e pensei: quero fazer algo que mude a forma como vemos essas pessoas", conta.
Três anos depois —e com 70 contatos de haitianos adicionados ao celular—, ele lança o livro "Rekòmanse - Outras Faces, Outras Histórias" (recomeço, em francês crioulo) e expõe as imagens no Museu da Fotografia, em Curitiba.
A obra traz 196 imagens divididas em três partes. Na primeira, estão fotos coloridas de imigrantes na região de Curitiba durante cultos, casamentos e jogos de futebol. Entre imagens alegres, moradias minúsculas e refeições mirradas, como a boda regada a pipoca, bolacha e salgadinho.
Bruno Covello | ||
O haitiano Reynald Stanis, que vive em Curitiba, reencontra o pai agricultor na cidade no interior do país |
Mas o foco do trabalho não eram as dificuldades no Brasil. "Eu queria sair do tema da pobreza e do racismo para trazer com clareza quem eram essas pessoas." Ele, então, decidiu planejar uma viagem: levaria retratos dos amigos haitianos que fez aqui até parentes deles no país caribenho.
Esse projeto está registrado na segunda parte do livro, com sete fotografias em preto e branco que ele ampliou em tamanho 50 cm X 33 cm e emoldurou para a entrega.
A parada mais emocionante ocorreu na cidade de Arcahaie, onde estão os dois filhos que Marie Viergelie, 37, teve de deixar para trás. Ao chegar à antiga casa de Marie, Covello conta que o filho menor, Hiramson, 10, ficou 20 minutos acariciando a imagem da mãe, que não via há cinco anos.
Bruno Covello | ||
Retrato de Marie Viergelie, 37, presenteado aos filhos pequenos da haitiana, que não emigraram com ela |
Na capital Porto Príncipe, um outro presenteado, Compère Jerceau, pendurou o retrato do filho de 19 anos ao lado de uma pintura da mãe do jovem. A família toda veio ao Brasil, deixando Jerceau solitário. "Ele disse que fica feliz em saber que o filho está bem, porque há emprego no Haiti", relembra Covello.
Essa realidade socioeconômica do país está na terceira parte do livro, em que o fotógrafo expõe um pouco da festa visual que foi sua estada de 16 dias no Haiti.
São novos cultos, jogos e festas, não mais no cinza de Curitiba, mas emoldurados pelo mar esverdeado e o céu amplo, além do colorido vibrante dos comércios e transportes coletivos informais.
A destruição deixada pelo terremoto de 2010 não está no livro. "Ninguém reconhece Porto Príncipe nas fotos", conta o autor. "O que eu vi foi a vida acontecendo."
O livro custa R$ 80 e pode ser adquirido pelo e-mail contato@brunnocovello.com.
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