Pinacoteca dedica 2018 às mulheres do Brasil e do mundo; sueca abre agenda

ISABELLA MENON
DE SÃO PAULO

Sob os olhos do alemão Jochen Volz, a Pinacoteca se dedicará às mulheres em 2018: serão duas grandes exposições estrangeiras, além de três individuais de artistas que, apesar de brasileiras, não têm tanto destaque nacional.

"Há uma preocupação de como corrigir a história da arte e vê-la com um pouco mais de cuidado", explica o diretor-geral do museu.

Mãe do abstracionismo, Hilma Af Klint (1862-1944) inaugura a programação feminina em março. Antes de Kandinsky -considerado por muitos como o pioneiro da arte abstrata-, a sueca já pintava, escondida, telas de três metros de altura por dois de largura no estilo.

Morta em 1944, Klint deixou no testamento um pedido curioso à sua família: que suas obras não fossem expostas por mais 20 anos. "Ela tinha uma visão de que, talvez, seus trabalhos ganhassem relevância só em uma geração futura", explica Volz.

Ele avalia que a artista teve um instinto de autoproteção e "optou por não mostrar para ninguém intervir".

Também vem do exterior a segunda grande mostra. Em agosto, a Pinacoteca recebe a "Radical Women: Latin American Art (1960-1985)".

Crédito: Divulgação Obra que compõe a mostra retrospectiva de Hilma Af Klint (1862-1944) na Pinacoteca
Obra que compõe a mostra retrospectiva de Hilma Af Klint (1862-1944) na Pinacoteca

Organizada pelo Hammer Museum de Los Angeles (Estados Unidos), a exposição dá voz a artistas latino-americanas pouco conhecidas. A pesquisa, feita por Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta, durou aproximadamente sete anos.

A mostra abriga trabalhos de 20 artistas brasileiras, como Lygia Clark (1920-1988) e Letícia Parente (1930-1991). Para o diretor, será uma ótima oportunidade para o público geral descobrir importantes artistas latinas que não costumam aparecer.

São obras feitas em um período no qual os artistas enfrentavam a ditadura militar em seus respectivos países, entre as décadas de 1960 e 1980. Até por isso, Volz acrescenta que é importante "não só olhar pela arte brasileira, argentina ou chilena, mas tentar mapear o continente inteiro".

Mas nem só de mulheres será o ano da Pinacoteca, artistas como Tunga, José Damasceno e José Antônio da Silva também estarão presentes no ano do museu.

Além deles, já no final do ano, Laércio Redondo trará certa inovação à Pinacoteca com uma coleção permanente em que mecanismos com cheiros serão colocados em espaços estratégicos do museu de acordo com uma pesquisa a ser realizada por ele sobre o acervo.

ONDAS RADICAIS

O segundo semestre de 2017, nas artes plásticas, foi marcado por polêmicas de grupos conservadores que se voltaram contra exposições de teor sexual, o que ocasionou, por exemplo, no cancelamento da "Queermuseu", em Porto Alegre.

Entretanto, o diretor-geral da Pinacoteca diz que manifestações como estas são "ondas radicais que vêm e vão". Essa onda, para ele, requer um momento de união entre as instituições, para aprendizado e troca de informações.

Fazendo um balanço de 2017 -ano em que o museu teve orçamento de R$ 30,8 milhões-, Volz destaca duas montagens. A primeira foi dedicada a Di Cavalcanti e "mostrou uma exposição rica e incrível que trouxe para muitos um outro olhar para o trabalho do artista".

A segunda foi a coletiva "Antologias", com 250 fotografias de 60 artistas. "Sem cronologia, foi possível pensar no acervo como registro e documentação."

O ANO DELAS
Cinco trabalhos femininos em destaque

MARÇO
> Hilma Af Klint: Mundos Possíves

ABRIL
> Instalação de Ana Luiza D. Batista será exposta no segundo andar

JULHO
> Site specific de Laura Lima ocupará o Octógono

AGOSTO
> Radical Women: Latin America Art (1960-1985), com obras da brasileira Lygia Clark
> Retrospectiva da brasileira Valeska Soares, na Pina Estação

DEZEMBRO
> Primeira mostra institucional de Rosana Paulino na Pinacoteca

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