'Transformo o pop em peças estranhas', diz a cantora Lorde

Crédito: Nicole Fara Silver/The New York Times A cantora Lorde em show em Nova York, em junho passado
A cantora Lorde em show em Nova York, em junho passado

ALEX KIDD
DE SÃO PAULO

"Às vezes me sentia uma bruxa no estúdio", relembra a cantora Lorde sobre as gravações de "Melodrama", seu segundo disco.

A feitiçaria parece ter funcionado. Lançado em junho do ano passado, o sucessor de "Pure Heroine" (2013) é um forte concorrente na categoria "álbum do ano" do Grammy 2018.

"Pura mágica pop!", sentenciou a conceituada revista britânica NME, que o elegeu o disco do ano.

O reconhecimento de suas confissões não agradou somente a crítica. No seu lançamento, "Melodrama" vendeu 82 mil cópias, 40 mil canções e teve quase 35 milhões de audições, totalizando 109 mil unidades, conforme divulgou a consultoria Nielsen SoundScan.

Foi a primeira vez que a cantora da neozelandesa liderou a parada da "Billboard".

Em Paris, uma fã tirou uma foto da capa do disco entre estátuas renascentistas do Louvre e a postou nas redes sociais com a seguinte legenda: "Uma obra de arte rodeada por outras!". Viralizou.

De voz tímida, a cantora falou à Folha por telefone. Estava surpresa com a capacidade de suas novas autodescobertas falarem com o coração de tanta gente no mundo.

"Houve muita pressão nas gravações. Fiquei anos no estúdio experimentando e tentando subverter a ideia do que seria uma música da Lorde", diz especificamente sobre "Green Light", primeiro single do disco que foge da matemática pop.

MÚSICA ESQUISITA

Na época do lançamento, o produtor Max Martin (mente por trás dos hits de Katy Perry e Taylor Swift), qualificou a música como esquisita. "O refrão só surge no meio da música!", esbravejou.

A cantora se defende: "Gosto de pegar elementos pop e transformá-los em peças estranhas. Cresci ouvindo ABBA, Fleetwood Mac"¦ Eu conheço a cartilha!".

Lorde sempre foi na contramão. Seu primeiro hit, "Royals", é repleto de silêncio e arranjos econômicos. A novidade rendeu um Grammy à cantora, que emendou o lançamento do novo disco com uma turnê ambiciosa.

CANCELAMENTO

Iniciada em setembro do ano passado, a "Melodrama World Tour" passará por quatro continentes com mais de 65 shows e só terminará no segundo semestre de 2018 –ainda não estão previstas datas no Brasil.

Recentemente, a cantora cancelou um show em Tel Aviv (Israel), após mensagens de fãs e uma significativa carta aberta escrita por duas neozelandesas, uma judia e outra descendente de palestinos, associarem a apresentação a um posicionamento sobre os conflitos na região.

O cancelamento fez o embaixador israelense na Nova Zelândia, Itzhag Gerbeg, publicar uma outra carta aberta, também à cantora, solicitando uma reunião para que tratassem do assunto.

Quando questionada sobre se faria uma canção de protesto, a cantora disse não se achar a pessoa certa para tal.

"Tive uma vida privilegiada. Faria mais sentido ouvir músicas de pessoas que sofreram violência e opressão sistêmica. Quero ouvir estas vozes em vez de tomá-las e torná-las um sofrimento próprio."

OS FAVORITOS
Cinco discos que Lorde levaria numa viagem intergaláctica

1. Graceland
Paul Simon (1986)

2. Tango in the Night
Fleetwood Mac (1987)

3. My Woman
Angel Olsen (2016)

4. Emotion
Carly Rae Jepsen (2015)

5. Tidal
Fiona Apple (1996)

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