"Aperto" no pagamento de aditivos dificulta vida de fornecedores da Petrobras
Em três meses, pelo menos três empresas de engenharia fornecedoras da Petrobras pediram recuperação judicial ou decretaram falência.
As três -- GDK, Tenace Engenharia e Consultoria e WBS Produtos e Serviços em Petróleo -- têm a estatal como principal cliente. Problemas com aditivos de contratos com a petroleira seriam a causa dos problemas, segundo fontes do mercado.
A GDK, com sede em Salvador (BA) e que constrói e mantem dutos e instalações industriais, entrou em recuperação judicial no último dia 10. Em comunicado a companhia diz que "o objetivo da iniciativa foi adequar os passivos da empresa e equilibrar sua situação financeira".
A página da GDK na internet lista 36 projetos executados para a Petrobras e subsidiárias, de uma lista de 41. Entre as obras, estão a reforma da plataforma P-34, em 2005, e um trecho do Gasbol, o gasoduto Brasil-Bolívia.
Em 2005 a direção da GDK foi acusada de dar um Land Rover, avaliado em R$ 73,5 mil, para o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira. O episódio foi investigado pela CPI dos Correios.
A também baiana Tenace, que prestava serviços de montagem e manutenção de unidades industriais, decretou falência em novembro do ano passado. Em comunicado aos credores, a empresa diz que sua insolvência decorreu de uma "danosa relação contratual estabelecida com a Petrobras".
"Noventa por cento das nossas obras eram para a Petrobras. Deixamos 2.800 funcionários e R$ 800 milhões em obras para trás", disse o ex-dono da Tenace, Carlos Diógenes Carneiro.
De acordo com Carneiro, o problema da Tenace teria começado em 2009, quando a empresa venceu licitação de R$ 163 milhões para construir duas unidades industriais do Polo de Guamaré, no Rio Grande do Norte.
Segundo Carneiro, em setembro de 2009, a estatal solicitou um projeto diferente do apresentado no edital. "Nosso erro foi não pedir prazo para estudar as mudanças", disse.
Em outubro, a Tenace pleiteou um aditivo de R$ 72 milhões, valor correspondente a 44,1% do contrato inicial, que foi negado. Só um ano e oito meses a Petrobras aceitou pagar R$ 22 milhões.
"A dívida com fornecedores foi minando o caixa da empresa a uma situação insustentável", disse ele.
Em novembro, a WBS, também baiana, pediu recuperação judicial. A reportagem tentou contato com a empresa por telefone e email, mas não teve resposta.
De acordo com um executivo do setor, a situação das empreiteiras se agravou depois que Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras e começou a reavaliar projetos em andamento.
O plano de negócios da companhia para o período de 2012 a 2016 coloca em avaliação 147 projetos, no valor de US$ 27,8 bilhões (aproximadamente R$ 55,6 bilhões).
OUTRO LADO
A Petrobras informou, em nota, que "os pagamentos de seus compromissos reconhecidos são realizados de acordo com os prazos estabelecidos contratualmente".
A estatal disse que os pleitos de aditivos apresentados por fornecedores passam por uma avaliação técnica e jurídica.
Após a conclusão deste processo, a negociação é submetida a aprovação das "instâncias corporativas competentes".
A empresa não menciona em seu comunicado os fornecedores em recuperação judicial ou com pedido de falência, ainda que Folha tenha questionado especificamente sobre eles.
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