Duração da crise vai determinar efeito na retomada econômica
A incerteza deflagrada pela delação de Joesley Batista, um dos donos da JBS, deverá ter impacto negativo sobre a economia brasileira, que ensaiava uma recuperação.
A dúvida de economistas e investidores, nesta quinta (18), era se a crise política adiará ou abortará a retomada.
Segundo analistas, há dois riscos principais. O primeiro é que a insegurança que ameaça a continuidade do presidente Michel Temer no cargo afete a confiança de consumidores e empresários, que vinha subindo lentamente.
A expectativa de melhora da economia era vista como uma tendência muito positiva porque poderia levar a uma retomada do consumo e de investimentos. Com a volta da insegurança, esse processo pode ser congelado.
Outro motor da recuperação ainda incipiente da economia era a expectativa de que a reforma da Previdência seria aprovada em breve.
Economistas do mercado financeiro consideram que as medidas propostas para conter o crescente deficit no regime de aposentadorias é essencial para garantir a solvência do setor público.
A crise dos últimos dois dias causou grande insegurança a respeito das chances de que a reforma seja aprovada caso Temer deixe o governo.
"O cenário é muito incerto, não dá para fazer prognósticos para amanhã", diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.
De acordo com ela, o certo, é "que o mercado vai continuar muito mal".
As incertezas contribuíram para a forte desvalorização do real, a disparada dos juros no mercado futuro e a queda da Bolsa nesta quinta-feira.
O impacto dessa turbulência financeira sobre a economia real vai depender, segundo analistas, da duração da incerteza política.
Economistas ouvidos pela Folha ressaltaram que o cenário ideal seria uma solução rápida para a crise. Uma das possibilidades citadas como menos nocivas para a economia seria a substituição de Temer por alguém que se comprometa a continuar perseguindo as reformas propostas pelo governo atual.
No entanto, se as dúvidas sobre o futuro do presidente perdurarem por semanas, a tendência é que a variação nos preços de ativos financeiros —como a cotação do real em relação ao dólar e o valor de títulos públicos— afete a economia negativamente.
DE OLHO NO CÂMBIO
Para Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp, fundo de pensão com R$ 27 bilhões em ativos sob gestão, a variável-chave para ser acompanhada daqui para frente é o câmbio, que tem efeito importante sobre a trajetória de inflação.
Ele ressalta que o Banco Central pode decidir reduzir o ritmo de corte de juros dos últimos meses se avaliar que uma possível desvalorização do real pode levar a aumento de preços.
"Os ativos mudaram de patamar. Serão semanas de emoção", afirmou.
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