Michael Bloomberg vê desafio climático como oportunidade
Chad Batka/The New York Times | ||
O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg |
Depois de passar os últimos 19 anos envolvido no movimento verde, confesso minha falta de esperança especialmente considerando a administração Donald Trump.
Mas também por causa do aumento da produção de carne, da demanda de uma nova classe média na China, do crescimento populacional, entre outros fatores que apontam a mudança climática sendo um problema real e que precisa ser abordado.
Mas a questão das alterações climáticas pode ser vista como oportunidade compartilhada de prosperidade e progresso, como mostram o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg (2002-2013) e Carl Pope, ex-chefe da ONG que atua em defesa do ambiente Sierra Club.
Para reverter a mudança climática são necessárias mobilização em massa e alterações radicais na forma como investimos, regulamos, consumimos e organizamos nossas vidas diárias.
É o que defendem em "Climate of Hope: How Cities, Businesses, and Citizens Can Save the Planet" (clima da Esperança: como cidades, empresas e cidadãos podem preservar o planeta, ainda sem tradução). Este livro apresenta inspirações para os iniciados ou não no tema, com intuito de construírem um futuro mais sustentável, justo e amigável ao clima.
Diferentemente de outros livros no gênero ambiental, não há concentração de texto na temática da desgraça e tristeza. Em seu lugar, é discutido como o futuro pertence à sustentabilidade ambiental, aproveitando as experiências dos autores na implantação de soluções do mundo real: Bloomberg restringindo os veículos na Times Square em Nova York quando prefeito, e Pope fechando termoelétricas ineficientes quando lobista.
O texto possui uma longa série de gracejos esperançosos, praticamente não há dados e certamente nenhuma análise quantitativa. Os raros números oferecidos são apresentados de forma pouco estruturada, sem as fontes ou informações adicionais para que o leitor possa chegar a suas próprias conclusões.
Em dado momento é afirmado que "a maior parte das ações que diminuem a pegada de carbono também torna as cidades melhores para se viver, com lugares mais produtivos". Uma afirmação provocadora. Mas há alguma análise para respaldar tal reivindicação? Não no livro.
O curioso é que Bloomberg sempre usa a frase "você só pode gerir o que mede". Na agenda da sustentabilidade, a conexão financeira ainda é o elo que falta e representa a nova fronteira de discussões sobre o tema.
AUSÊNCIAS
Bloomberg e Pope escrevem a partir de suas experiências e compartilham suas próprias histórias da iniciativa pública e privada. O que é irônico é a falta de aprofundamento numa ação em curso: a Taskforce on Climate Related Financial Disclousures, liderada por Bloomberg.
A iniciativa tem um potencial enorme de impactar como as empresas e investidores selecionam seus ativos, mas só mereceu poucas páginas do livro. Ações fora da influência direta dos autores também foram deixadas de lado, dentre elas destaca-se o CDP, uma organização que ajuda no mapeamento de emissões de carbono, influencia o comportamento de cidades, empresas e cidadãos.
Difícil encontrar uma razão para justificar sua ausência na obra, assim como para o WWF e as outras ONGs.
Infelizmente Bloomberg e Pope optaram pela via mais fácil para escrever a obra em conjunto. Cada autor contribui com um capítulo individual, apenas o último é escrito em conjunto, o que gera falta de fluidez.
Os autores demonstram que o futuro está sendo refeito: é uma mensagem esperançosa e prática que nos inspira a agir. Num dos momentos mais controversos na política do Brasil, um futuro verde pode se tornar vital para recuperar nossa democracia e revitalizar a economia.
Em vez de falar de consequência de longo prazo, mostram riscos imediatos, em vez de colocar o ambiente contra a economia, consideram princípios éticos e desenvolvimento sustentável.
Assim, o livro reverteu minha minidepressão em torno do tema, senti-me mais tranquilizado pelas muitas ações e táticas descritas que nos capacitarão a pressionar por mudanças mais rápidas.
Veredito: não é uma obra para livrarias acadêmicas, mas ajudará leitores a entenderem melhor as questões relacionadas ao clima.
Luiz Calado, pós doutor na Universidade da Califórnia e Pesquisador do Centro de Estudos GV Invest da EESP-FGV
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Atualizado em 24/04/2024 | Fonte: CMA | ||
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