Inflação deve seguir comportada em 2018 mesmo sem ajuda de alimentos

Crédito: Joel Silva/Folhapress Consumidores fazem compra em supermercado em Vitória
Consumidores fazem compra em supermercado em Vitória

FLAVIA LIMA
DE SÃO PAULO

O grande responsável pela inflação baixa em 2017 foi mesmo o grupo alimentação, trajetória que, segundo especialistas, não deve se repetir em 2018.

O grupo alimentação e bebidas representa quase 25% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e registrou queda em pelo menos oito de 11 meses em 2017.

Ainda que esse movimento não se repita neste ano, a expectativa é que os preços no geral sigam comportados, o que pode ser constatado nas projeções dos economistas consultados pelo Banco Central.

No início da semana, eles previam alta de 3,95% para a inflação medida pelo IPCA em 2018, o que, confirmado, seria o quarto menor percentual desde o início do Plano Real.

Só perderia para os anos de 1998 (+1,65%), 2006 (+3,14%) e o próprio 2017 (+2,95%).

Na virada de 2016 para 2017, esses mesmos economistas estavam bem menos otimistas.

Eles esperavam uma inflação de quase 5% para 2017 e, para 2018, a alta prevista era de 4,5%.

Ao justificar por que foram surpreendidos, muitos desses especialistas gostam de citar a atuação austera do Banco Central sob o comando de Ilan Goldfajn no manejo dos juros e no controle das expectativas do mercado.

Fato é que foram pegos de surpresa sobretudo pela trajetória dos preços de alimentos, grupo que indica mais ou menos para onde vai o índice.

HISTÓRICO

Uma olhada mais longa na série histórica do IPCA deixa isso mais claro.

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Após o Plano Real, muito da trajetória do IPCA nos anos seguintes se deveu aos alimentos.

Em 2002, por exemplo, o descontrole dos alimentos teve influência significativa sobre a alta de 12,53% do IPCA. Já em 2006, foi a safra agrícola extraordinária que permitiu que os preços encerrassem aquele ano em alta de 3,14%.

Mesmo em 2015, quando a inflação subiu mais de 10% influenciada pelos preços monitorados pelo governo, como luz e combustíveis, o forte choque agrícola teve a sua contribuição para o quadro ruim.

Mas ainda que o ciclo de deflação deste grupo tenha se encerrado, isso não significa que os preços voltarão a subir com força.

A economia em recuperação gradual e o fraco mercado de trabalho continuam a favorecer uma inflação comportada por mais tempo –daí as projeções abaixo de 4% para 2018.

Há temores em relação aos efeitos de um cenário externo (ou interno) mais atribulado sobre o câmbio, e consequentemente sobre a inflação. Mas, por enquanto, não são significativos.

Janeiro, por exemplo, é um mês em que há tradicionalmente maior pressão da inflação em razão de reajustes de taxas de serviços públicos. Há previsão de reajustes, por exemplo, da água encanada e esgoto no Rio e dos ônibus urbanos e trens em São Paulo.

Para além de 2018, a incógnita é se estamos ou não em um "novo normal" em termos de preços. Não custa lembrar que já vimos esse quadro antes.

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Crédito: Países que adotam metas inflação
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