JOANA CUNHA
DE SÃO PAULO

O mais novo expoente da classe de empresários que resolveram se lançar à política no Brasil é Luciano Hang, fundador da Havan, rede varejista notabilizada pela decoração das fachadas de suas lojas, em que replica a Casa Branca e instala uma Estátua da Liberdade com dezenas de metros de altura.

No dia 5, o empresário preparou um evento em Brusque (SC), onde fica a sede da empresa, para anunciar sua entrada na política.

Sem sinalizar o cargo almejado e o partido em que ingressará, ele conta que se desfiliou do MDB, ficando livre para fazer escolhas.

"Quero participar ativamente [da política] sendo ou não candidato. A minha desfiliação do PMDB mostra que eu estou livre para escolher o partido e um cargo", discursou o catarinense, com entoação semelhante à de políticos experientes.

Seu gesto se soma à tendência de entrada de empresários na política, que se consolidou com a vitória de João Doria (PSDB) para a Prefeitura de São Paulo, alavancado pela imagem de gestor competente.

São também exemplos desse movimento o banqueiro João Amoêdo, pré-candidato à Presidência pelo Partido Novo, e Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, nome frequentemente cotado para cargos públicos.

"As pessoas dizem: 'Ah, mas o fulano é muito radical'. Tem certas coisas em que, hoje, no país, precisa ser radical. O Brasil tem certas coisas em que tem que bater com o pau em cima da mesa", disse Hang, vestindo uma camiseta estampada com a frase "O Brasil precisa de nós".

Não demorou para que brotasse na internet a informação de que, após se colocar à disposição da política, Hang teria sido convidado por Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para ser vice da candidatura do deputado à Presidência.

Procurada, a Havan não confirma se o convite de fato aconteceu nem se teria sido aceito. Quem deve ocupar a vaga de vice na candidatura de Bolsonaro é o senador Magno Malta (PR-ES), segundo aliados do deputado.

O dono da Havan, por sua vez, não chegou a revelar suas preferências, mas disse rejeitar candidatos populistas "que só falam aquilo que o povo que escutar" ou que não queiram fazer reformas.

QUEM É?

Se vier a ser candidato, Hang terá de combater o desconhecimento do público, fruto da sua preferência pela discrição nos 30 anos de história da empresa que se expandiu por 15 Estados e hoje tem mais de cem unidades.

Aos 55, Hang intensificou suas aparições públicas há pouco mais de um ano, quando percebeu, com base em uma pesquisa entre os clientes da rede, que sua identidade não estava clara na cabeça do consumidor.

Ele resolveu assumir a mensagem em uma campanha publicitária para contestar as versões recorrentes entre consumidores de que a Havan pertencia ao bispo Edir Macedo, a filhos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff ou a sócios americanos e asiáticos.

A rede tem mais de 12 mil trabalhadores e estima ter faturado mais de R$ 4 bilhões no ano passado.

As fachadas exóticas decoradas com os ícones americanos vêm de uma paixão do empresário pelos Estados Unidos e foi criada para representar a "liberdade" que a rede oferece ao consumidor diante de um portfólio de produtos muito vasto, de acordo com a companhia.

A partir dos anos 1990, a Havan começou a consolidar o perfil de megalojas pelo qual hoje é conhecida: ampliou a oferta de tecidos e itens importados, passando a vender eletrônicos, brinquedos, ferramentas, utensílios domésticos, entre outros.

Ainda no evento em que se apresentou politicamente, ao ser questionado pela plateia se concorreria ao governo de Santa Catarina ou a um cargo nacional, o empresário repetiu cinco vezes: "Estou aí!".

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