Mudança no Facebook terá efeito 'arca de Noé', dizem analistas

Crédito: Gerard Julien/AFP Esta foto de arquivo realizada em 09 de outubro de 2015 mostra uma tela de computador exibindo a página do Facebook com as novas opções de "Reações" como uma extensão do botão "como", para dar às pessoas mais maneiras de sinalizar facilmente como elas se sentem. O Facebook foi multado em 1,2 milhões de euros em 11 de setembro de 2017 por um responsável espanhol pela proteção de violações das leis de privacidade.
Página do Facebook, que vai priorizar posts de amigos e familiares

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE WASHINGTON

A aposta do Facebook em priorizar posts de amigos e familiares, em detrimento de páginas jornalísticas e de empresas, terá um efeito "arca de Noé" no tipo de conteúdo a ser valorizado pela plataforma, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

A intenção é botar abaixo o ambiente que propiciou a proliferação de notícias falsas, em especial no processo eleitoral dos Estados Unidos.

Só sobreviverá quem produzir material que se destaque na interação com o usuário. Todo o resto será levado embora –o problema é que o movimento arrisca afogar não só as notícias falsas, mas também conteúdo jornalístico de qualidade.

"É um momento de inflexão do Facebook, num esforço significativo. Mas as notícias verdadeiras podem ser levadas na mesma água", diz Rosental Alves, professor da Universidade do Texas e diretor do Knight Center para o Jornalismo nas Américas.

A mudança anunciada nesta quinta (11) gerou queda de 4,89% nas ações da companhia (a maior em mais de um ano) e ocorre em um momento de criticismo à forma como empresas de tecnologia se posicionaram diante das notícias falsas, ou "fake news", nas eleições dos EUA.

As plataformas foram usadas para a proliferação de falsidades sobre os candidatos e o fomento da discórdia entre os eleitores.

Em dezembro, o Facebook reconheceu, pela primeira vez, que pode fazer mal aos usuários. A sensação de mal-estar ocorre principalmente quando não há interação com o conteúdo.

Vem daí o posicionamento de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que disse que quer promover material de "interação significativa", que seja compartilhado por amigos ou gere conversação.

A mudança, de fato, vem sendo gestada há meses, a começar com um teste que tirou as páginas de mídia do feed em seis países.

"A gente já esperava", disse à Folha a analista Clare Carr, vice-presidente da consultoria Parse.ly, especializada em mídias digitais.

No último ano, o tráfego oriundo do Facebook caiu 38% nos veículos jornalísticos monitorados pela empresa.

Dentro da proposta de "fazer bem" ao usuário, as notícias nem sempre são uma experiência aprazível, afirma o professor Jesse Holcomb, pesquisador do Tow Center para Jornalismo Digital. "Em especial nos dias de hoje, elas podem ser quase deprimentes e reforçar cisões."

Nesse sentido, o negócio do Facebook "vem em primeiro lugar", afirma Carr.

FUTURO

Especialistas se dividem sobre como a mudança irá impactar os sites de notícia.

Veículos mais jovens e mais dependentes de publicidade, cuja audiência é maximizada por redes sociais como o Facebook, devem sofrer mais no início.

Também há dúvidas sobre quais serão os critérios de "conteúdo significativo" da companhia. Para o professor Jeff Jarvis, o movimento corre o risco de incentivar um "commentbait", ou "caça-comentários", com a proliferação de materiais com comentários odiosos.

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