'Governo não faz análise ampla para privatizar', diz professor do Insper

Crédito: Keiny Andrade/Folhapress SAO PAULO - 12.01.2018 - MERCADO - Retrato do economista Sergio Lazzarini, professor do Insper. Faremos um ping com ele para uma pauta especial sobre privatizações. Foto: KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS
O professor do Insper Sérgio Lazzarini

TAÍS HIRATA
DE SÃO PAULO

A decisão sobre privatizar ou não uma empresa estatal passa necessariamente por uma análise de seu impacto social, ambiental e estratégico, segundo o professor do Insper Sérgio Lazzarini.

Ele defende uma avaliação aprofundada de cada caso antes de iniciar um processo de desestatização —o que, segundo ele, não é o que tem sido feito pelo atual governo federal.

Folha - É viável pensar na privatização de grandes empresas como Petrobras ou Caixa?

Sérgio Lazzarini - Primeiro, é desejável privatizar? A volta do debate é bem-vinda, mas faria uma análise mais aprofundada. O que se tem falado é 'vamos privatizar, porque deu tudo errado'. Mas olha o que está acontecendo com a Petrobras, que está indo em um caminho de melhoria de gestão, fez um 'turnaround' [reestruturação] grande.

Outra pergunta que se tem que fazer é: é desejável ter uma estatal nesse setor?

Se eu vou privatizar o Banco do Brasil ou a Caixa, que têm uma capilaridade em áreas menores, onde o setor privado não está presente, tem que se perguntar se esses objetivos serão atendidos pelo setor privado.

Acho que haveria mais oportunidades de privatizar estatais muito problemáticas.

É o caso da Petrobras?

Depende. Se você me falar "quero que a Petrobras atue como extratora de óleo", eu vou ser o primeiro a falar "privatiza". Agora, se você quer uma Petrobras como desenvolvedora de tecnologia de alto risco de exploração, que vai gerar ganhos de conhecimento, aí é outro papo.

Em quais setores há exemplos dessas estatais mais problemáticas?

Essa análise é caso a caso, pensando no papel de cada estatal. Não é algo por setor.

Qual é o impacto das privatizações na arrecadação, no curto e no longo prazo?

O problema fiscal não se resolve com privatização. Vamos pegar esse valor de R$ 400 bilhões. Isso equivale a dois, três anos de deficit da Previdência. Você vai resolver um problema de curto prazo. Problema fiscal só se resolve com ajuste fiscal.

Claro que você pode privatizar para montar caixa, isso é bem-vindo, mas isso não dispensa uma análise aprofundada.

*As privatizações que estão em discussão hoje têm passado por essa análise técnica? *

Não, acho que está [ocorrendo] a partir da motivação de determinados gestores. O ministro da Energia [Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE)] cogitou a privatização da Eletrobras e se tocou.

Não há um esforço centrado, técnico e amplo para fazer essa análise, uma triagem do tipo de estatal, de como está a governança, quais são os objetivos sociais que quero perseguir, os cuidados a tomar e assim por diante.

Como seria essa análise?

Teria que ter um grande mapeamento de todas as estatais em algumas dimensões. Uma é como está a governança. Se a Petrobras está avançando em termos de governança, eu esperaria mais, não colocaria como prioridade. A Eletrobras avançou, mas menos, e as distribuidoras têm uma grande influência política.

A segunda pergunta é se a estatal está gerando impacto socioambiental para além do que o mercado conseguiria e se você precisa de uma estatal para conseguir os objetivos.

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