WikiLeaks diz que internet de Assange foi cortada após pedido de John Kerry
Em meio à divulgação de uma série de e-mails do círculo próximo da candidata democrata Hillary Clinton, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, afirmou que teve sua internet cortada de forma súbita na Embaixada do Equador em Londres, onde vive há mais de quatro anos.
"Podemos confirmar que o Equador cortou o acesso de Assange à internet no sábado, às 17h GMT [15h em Brasília], pouco após a publicação de [discursos de Hillary] Clinton para Goldman Sachs ", disse o WikiLeaks nesta segunda (17).
Nesta terça (18), o governo equatoriano confirmou ter "restringido temporariamente" a rede de comunicação da embaixada em Londres. A administração de Rafael Correa afirmou que a publicação de documentos que impactam na eleição norte-americana é responsabilidade do WikiLeaks e que o país não quer se intrometer no processo eleitoral ou beneficiar nenhum candidato.
"Nesse ponto, o Equador, exercendo seu direito à soberania, restringiu temporariamente o acesso a partes de seu sistema de comunicação na embaixada no Reino Unido", disse o governo.
"O Equador não cede a pressões de outros países."
Desde o início do mês, o WikiLeaks vem divulgando e-mails com posições de Hillary, entre eles trechos de palestras da democrata feitos a bancos, após a agora candidata ter deixado seu cargo na administração Barack Obama.
Neles, a ex-secretária de Estado revela opiniões favoráveis ao mercado financeiro e ao livre comércio, o que contrasta com seu discurso na corrida à Casa Branca.
Segundo o WikilLeaks, as mensagens foram retiradas do e-mail do chefe de campanha da democrata, John Podesta.
Nesta terça (18), o grupo acusou o secretário de Estado americano, John Kerry, de pedir pessoalmente ao Equador para que a publicação de documentos sobre Hillary fosse interrompida. Citando "múltiplas fontes americanas", o WikiLeaks disse que a demanda foi feita às margens de encontros no mês passado com Kerry, durante o acordo de paz com as Farc na Colômbia.
O Departamento de Estado dos EUA negou a acusação.
"Apesar das nossas preocupações sobre o WikiLeaks serem duradouras, qualquer sugestão de que o secretário Kerry ou o Departamento de Estado estejam envolvidos na interrupção do WikiLeaks são falsas", disse o porta-voz da secretaria, John Kirby.
Antes da confirmação de restrição do acesso por parte do governo equatoriano, a chancelaria de Rafael Correa havia reafirmado o status de asilado de Assange e dito que "sua proteção pelo Estado do Equador continuará enquanto permanecerem as circunstâncias que levaram à concessão do asilo".
Olivia Harris - 19.ago.2012/Reuters | ||
Julian Assange fala a repórteres da Embaixada do Equador em Londres, em agosto de 2012 |
Assange está alojado na embaixada equatoriana desde junho de 2012, quando pediu asilo para evitar uma extradição para a Suécia, onde é acusado de crimes sexuais. O governo britânico já deixou claro que, se ele sair da embaixada, será preso.
Até agora, sua estadia na embaixada não evitou que ele continuasse a exposição de segredos de Estado e negociações comerciais.
Nas duas últimas semanas, autoridades do Partido Democrata e agências do governo dos Estados Unidos acusaram o governo russo de realizar uma campanha de ciberataques contra organizações do partido antes das eleições presidenciais, em 8 de novembro.
Se o motivo da interrupção do acesso à internet tiver motivação diplomática, vai de encontro com a posição do presidente do Equador, Rafael Correa, que disse recentemente em entrevista que prefere Hillary contra o adversário republicano, Donald Trump.
Há quem duvide, porém, que Correa tenha se dobrado à pressão norte-americana.
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