Futuro chefe de inquérito sobre Rússia é elogiado por esquerda e direita

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Desde o anúncio, na quarta (17), de que o ex-diretor do FBI Robert Mueller, 72, seria o conselheiro especial para comandar as investigações sobre possíveis elos entre integrantes da equipe de campanha de Donald Trump e a Rússia, um episódio tem sido repetido à exaustão pela mídia americana: a vez em que Mueller venceu a queda de braço com George W. Bush.

Era 2004 e o então diretor do FBI ameaçou deixar o posto se Bush mantivesse um programa que permitia grampos sem autorização judicial mesmo após ele ter sido considerado inconstitucional pelo Departamento de Justiça.

Bush cedeu, e Mueller ficou, permanecendo por 12 anos (2001-2013) à frente da polícia federal americana.

O caso é usado como exemplo da independência e da integridade de Mueller, que já demonstrou ser resistente a pressão. Sua indicação pelo vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, foi elogiada por republicanos e democratas e pela imprensa. Em editorial do "New York Times", Mueller é chamado de "o conselheiro especial de que os EUA precisam".

O embate entre Mueller, que é republicano, e Bush, contudo, não foi o único. Dois anos depois, o diretor do FBI conduzia uma investigação de um caso de corrupção envolvendo o deputado democrata William Jefferson.

Sob pressão de parlamentares dos dois partidos, o presidente ordenou que o FBI devolvesse ao deputado os documentos recolhidos numa busca em seu gabinete. Mueller ameaçou novamente renunciar e conseguiu ficar com as provas que levaram à prisão de Jefferson.

Mueller, um veterano da Guerra do Vietnã pela Marinha, tem forte ligação com James Comey, o diretor do FBI demitido por Trump no último dia 9 —e supervisor da investigação que agora cabe ao conselheiro especial.

No episódio de 2004, Comey, então vice-secretário de Justiça, também ameaçou deixar o posto se os grampos fossem reinstituídos.

Mueller assumiu a chefia do FBI uma semana antes dos ataques do 11 de Setembro e ficou à frente da agência durante as complexas investigações dos atentados.

Do presidente democrata Barack Obama, recebeu o pedido, em 2011, para que estendesse por mais dois anos o seu mandato de dez anos antes de nomear Comey como seu sucessor.

Foi assim, o segundo diretor do FBI a ficar mais tempo no cargo, atrás apenas do controverso J. Edgar Hoover.

Desde que deixou o FBI, Mueller atua no escritório de advocacia WilmerHale, do qual se desligará para assumir a nova função.

Todos os rolos do presidente

Ex-conselheiro de Segurança Nacional, renunciou depois de a imprensa revelar que ele mentiu ao vice-presidente Pence sobre os contatos que manteve com o embaixador russo nos EUA

Flynn também é suspeito de ter recebido pagamentos dos governos russo e turco por lobby; por ser um ex-integrante do Exército, a lei impede que Flynn aceite pagamentos de estrangeiros

James Comey

Crédito: 3.mai.2017/Xinhua O ex-diretor do FBI, James Comey, testemunha no Senado no último dia 3
O ex-diretor do FBI, James Comey, testemunha no Senado no último dia 3

O ex-diretor do FBI liderava investigação sobre o elo entre auxiliares de Trump com a Rússia; dias antes de ser demitido, ele havia pedido mais recursos para a apuração

Ele foi demitido por Trump no último dia 9; a Casa Branca afirmou que o presidente seguiu recomendação do secretário e do vice-secretário da Justiça

Dois dias depois, o "New York Times" afirmou que, em um jantar em janeiro, Trump pediu a "lealdade" de Comey, que respondeu prometendo "honestidade"

Na terça (16), o "NYT" revelou que Trump pediu a Comey, em fevereiro, que encerrasse a investigação sobre Flynn; o registro do pedido estaria em um memorando escrito por Comey

Informações para os russos

Crédito: Russian Foreign Ministry via AP This handout photo released by the Russian Ministry of Foreign Affairs, shows President Donald Trump meeting with Russian Foreign Minister Sergey Lavrov in the Oval Office of the White House in Washington, Wednesday, May 10, 2017. The Washington Post is reporting that Trump revealed highly classified information about Islamic State militants to Russian officials during a meeting at the White House last week. The newspaper cites current and former U.S. officials who say Trump jeopardized a critical source of intelligence on IS in his conversations with the Russian foreign minister and the Russian ambassador to the U.S. They say Trump offered details about an IS terror threat related to the use of laptop computers on aircraft.(Russian Foreign Ministry via AP) ORG XMIT: WX111
Trump e o chanceler russo, Sergei Lavrov, em encontro na Casa Branca, no dia 10

Também nesta semana, o "Washington Post" informou que Trump teria revelado informação confidencial ao chanceler russo, Sergei Lavrov, em uma conversa na semana passada, na Casa Branca

A informação sobre uma ameaça do Estado Islâmico teria sido repassada sem a permissão da fonte (Israel, segundo o "NYT"), e poderia comprometer a segurança de um colaborador dos EUA na região

Trump reagiu dizendo que tem o "direito absoluto" de compartilhar informações com a Rússia; a Casa Branca alegou que os dados não eram secretos

O presidente Putin disse nesta quarta (17) que poderia fornecer a transcrição da conversa entre Trump e Lavrov se os EUA autorizarem

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