Líder de Mianmar faltará a Assembleia da ONU por crise com minoria étnica

Crédito: Carlo Allegri - 13.set.2017/Reuters Myanmar's Minister of Foreign Affairs Aung San Suu Kyi addresses the 71st United Nations General Assembly in Manhattan, New York, U.S. September 21, 2016. REUTERS/Carlo Allegri/File Photo
Aung San Suu Kyi fala na 71ª Assembleia Geral da ONU em 2016

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Em meio a fortes críticas da comunidade internacional pela violência sofrida pela minoria étnica rohingya, Aung San Suu Kyi, líder de fato do Mianmar, anunciou nesta quarta-feira (13) que não irá comparecer à Assembleia Geral da ONU.

Zaw Htay, porta-voz do gabinete de Suu Kyi, informou que a maior prioridade dela no momento é impedir que a violência se espalhe pelo país.

A atual crise começou no dia 25 de agosto, quando rebeldes rohingyas atacaram cerca de 20 delegacias de polícia no Estado de Rakhine, no oeste do país, onde se concentra a minoria rohingya.

Em resposta, o Exército tem conduzido o que chamou de "operações de limpeza", que afirma ter como objetivo deter "terroristas extremistas" e proteger a população civil.

Segundo dados oficiais, 400 pessoas já teriam morrido nos confrontos.

Uma multidão jogou pedras em lojas de muçulmanos no último domingo (10) na região central do país. Nenhum outro incidente foi registrado.

Zaw Htay informou que o governo teve acesso a informações sobre planejamento de ataques, mas não deu maiores detalhes. Ele afirmou que a segurança seria reforçada nas cidades.

Uma vez que o presidente Htin Kyaw está hospitalizado, o vice-presidente Henry Van Tio representará o Mianmar na Assembleia Geral da ONU.

Oficialmente, Suu Kyi ocupa o cargo de "conselheira estatal". Por ter dois filhos que têm nacionalidade britânica, a Constituição birmanesa proíbe que ela seja presidente.

Porém, devido a sua influência política como símbolo do movimento de redemocratização do país –ela recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1991– é considerada a líder de fato de Mianmar.

CRÍTICAS INTERNACIONAIS

No ano passado, vários laureados com o Nobel -incluindo Malala Yousafzai, Desmond Tutu e 11 outros- assinaram carta aberta "alertando sobre o potencial genocídio". Críticos de Suu Kyi a culparam pela crise e pediram que seu Prêmio Nobel seja revogado.

De acordo com a Constituição de Mianmar, o Exército constitui um quarto poder e não se submete ao Poder Executivo. Dessa forma, as ações militares em Rakhine estão fora da autoridade de Suu Kyi, o que poderia justificar sua atuação limitada na crise.

Entretanto, ela tem sido criticada por não condenar publicamente as ações militares e também por não reconhecer a gravidade da violência contra os rohingyas.

Em setembro de 2016, Suu Kyi falou à Assembleia Geral da ONU pela primeira vez como líder do Mianmar. Na ocasião, ela defendeu os esforços do seu governo para solucionar a crise envolvendo os rohingyas, mas não pronunciou o nome da minoria.

Meses antes, ela esteve no centro de uma polêmica por recomendar ao recém chegado embaixador americano no Mianmar que não usasse o nome "rohingya".

U Kyaw Zay Ya, porta voz do Ministério de Relações Exteriores, justificou à época que o termo não deveria ser usado porque os rohingyas não são um dos 135 grupos étnicos reconhecidos por lei.

Em outras ocasiões, Suu Kyi repetiu o argumento da junta militar que governou o país por mais de cinquenta anos de que a minoria estaria vivendo ilegalmente em Mianmar.

Os rohingyas não têm direito à cidadania birmanesa. Como apátridas, eles não têm acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e são proibidos de votar.

Na semana passada, Antonio Guterres afirmou que é crucial que o governo de Mianmar conceda imediatamente nacionalidade ou status legal à minoria. Ele também lembrou o longo histórico de "discriminação, desesperança e pobreza extrema" enfrentado pelos rohingyas.

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