Senadora 'rebelde' provoca novo bloqueio à lei de saúde de Trump

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Horas depois de a senadora republicana pelo Estado do Maine Susan Collins anunciar que não votaria, mais uma vez, na proposta dos correligionários para substituir o Obamacare, a liderança republicana no Senado anunciou que não teria o apoio suficiente para passar o texto.

Foi a quinta vez que o líder da maioria, Mitch McConnell, fracassou em aprovar uma proposta para substituir o programa de saúde criado por Obama. Foi a quinta vez que Collins votou contra —a única republicana na Casa a se opor a todos os projetos dos colegas na área.

A senadora se uniu na noite de segunda (25) aos também republicanos John McCain e Rand Paul, dizendo que não votaria na proposta dos senadores Bill Cassidy e Lindsey Graham por seus cortes ao Medicaid (sistema público voltado à população mais pobre), por não dar garantias a pacientes com doenças preexistentes e pela expectativa de aumento nos valores e redução de cobertura dos planos de saúde.

Com isso, os republicanos não passariam dos 49 votos —seriam necessários ao menos 50, com o previsível desempate a favor do texto pelo vice-presidente, Mike Pence.

Apesar de McCain ter a fama de senador "independente" por vocalizar com mais frequência críticas ao presidente Donald Trump, é Collins, 64, quem mais dá trabalho ao presidente nas votações.

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Levantamento feito pelo site FiveThirtyEight mostra que ela foi a integrante do partido que menos se alinhou a Trump no Senado, ficando a favor das propostas defendidas por ele em 79,6% das votações.

Considerada uma republicana moderada, de um Estado que não vota em um presidente da legenda desde 1988, Collins tem um histórico "dissidente".

Desde que entrou no Senado, há 20 anos, ela só votou com o seu partido em 60% das vezes, segundo o mesmo site. Em todo o período, só cinco senadores votaram menos com sua sigla —e nenhum deles está mais no Congresso.

Entre os posicionamentos mais emblemáticos de Collins no governo Trump, estão as cinco vezes em que ela rejeitou os planos de substituição do Obamacare, mas também seus votos contrários à nomeação da secretária de Educação, Betsy DeVos, e do administrador da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt.

Outros votos mostram a agenda pouco conservadora defendida por Collins: ela rejeitou as propostas de revogar leis que exigiam que empresas de energia reduzissem suas emissões, e que governos estaduais e locais distribuíssem fundos federais a centros de saúde mesmo que eles realizassem abortos. Os textos passaram com só um ou dois votos de diferença.

Em votações de propostas anteriores para substituir o Obamacare, um dos principais pontos questionados por Collins era a cláusula prevendo a suspensão de fundos federais para a organização de planejamento familiar Planned Parenthood, que faz procedimentos de aborto.

Um de seus críticos, o governador do Maine e também republicano Paul LePage, já declarou várias vezes que Collins tem jogado no Congresso de olho em seu cargo.

"Eu acho que ela sabe o que está fazendo. Ela está planejando se candidatar a governadora", disse LePage, cujo mandato termina em 2018.

Não seria a primeira vez que Collins, filha de dois prefeitos de Caribou, no norte do Estado, onde nasceu, tentaria conquistar o posto.

Em 1994, sua primeira disputa a um cargo público foi para o governo de Maine —e ela conseguiu vencer as primárias republicanas, tornando-se a primeira mulher a disputar o principal posto executivo no Estado por um grande partido. Perdeu, contudo, para o opositor democrata, o hoje independente Angus King.

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