Estilo de governo de Angela Merkel não funciona mais, afirma biógrafo

Crédito: Hannibal Hanschke - 30.dez.2017/Associated Press A chanceler alemã, Angela Merkel, grava mensagem de Ano-Novo à população no sábado (30)
A chanceler alemã, Angela Merkel, grava mensagem de Ano-Novo à população no sábado (30)

GUILHERME MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

O impasse político vivido pela Alemanha após a eleição de 24 de setembro, o mais longo desde o fim da Segunda Guerra, em 1945, não teve início em 2017 por acaso.

Para o biógrafo da chanceler Angela Merkel, o ano que passou "mostrou que o estilo de governo dela também tem um prazo de validade, e ele pode estar perto do fim".

O país chegou nesta terça-feira (2) ao centésimo dia sem a formação de um governo.

O partido de Merkel, a CDU (União Cristã-Democrata), foi o mais votado, mas não obteve maioria no Parlamento.

A chanceler falhou em formar uma coalizão com Verdes e liberais, e agora aguarda os sociais-democratas decidirem se aceitam repetir a parceria que governou a Alemanha entre 2013 e 2017. Novas conversas devem ocorrer na próxima semana.

"Merkel é a típica política que governa em uma base muito não ideológica, quase matemática", afirmou à Folha Stefan Kornelius, 52, que é jornalista do diário alemão "Süddeutsche Zeitung". Em 2013, ele publicou "Angela Merkel: A Chanceler e Seu Mundo", biografia lançada no Brasil em 2015 pela nVersos.

"Ela não é alguém de decisões apressadas. Avança com pequenos passos e compromissos. Esse tipo de política funcionou por 12 anos, mas as pessoas parecem estar cansadas disso. Hoje, vivemos em tempos de populistas, Donald Trump, essas explosões políticas não controladas. O estilo dela é totalmente o oposto."

"De repente", disse Kornelius, "ela parece antiquada nesse mundo. As pessoas têm essa necessidade de outro tipo de líder que, provavelmente, ela não será capaz de ser".

O jornalista acompanha Merkel desde 1989, quando a física ainda era porta-voz do DA (Despertar Democrático), partido de centro-direita fundado em meio à queda do regime comunista na Alemanha Oriental. Apesar de nascida em Hamburgo, Merkel foi criada no interior de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Estado rural no norte da antiga Alemanha comunista.

Quando assumiu a liderança da CDU, em 2000, cinco anos antes de se tornar chanceler, Merkel era vista por muitos correligionários com desconfiança, lembra Kornelius. "Ninguém acreditava que ela conseguiria."

Até então, ela havia chefiado apenas os ministérios da Juventude e do Meio Ambiente de seu padrinho político, Helmut Kohl, chanceler entre 1982 e 1998, o mais longevo e que agora deve ser igualado por Merkel se ela completar o quarto mandato.

Kornelius não especula além disso. "Acho que a Alemanha, e a própria chanceler, não estão ansiosas por um quinto governo. Mas vamos começar o quarto antes de falar em um quinto."

Em seu discurso anual de Ano-Novo na televisão, no último domingo (31), Merkel afirmou que trabalhar pelo futuro da Europa será sua maior prioridade. "Primeiro o mais importante", analisa Kornelius. "A principal prioridade dela é formar um governo. Sem isso, ela não pode tomar grandes decisões sobre a Europa. A Europa está basicamente esperando até essa questão ser resolvida."

"Honestamente, 2017 foi um ano perdido para a Alemanha, e para Merkel também", afirmou Kornelius. Ele vê com ressalvas a opção de um governo de minoria.

"Na política europeia, em que a Alemanha desempenha um papel tão importante, você precisa ter estabilidade doméstica e não pode se expor ao humor do Parlamento em cada tema pequeno. Ela está tentando desesperadamente formar esse governo, e acho que, no final, conseguirá."

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