Após críticas internacionais, Trump nega ter dito 'países de merda'

Crédito: Saul Loeb - 11.jan.2018/AFP Donald Trump em reunião na Casa Branca nesta quinta-feira (11)
Donald Trump em reunião na Casa Branca nesta quinta-feira (11)

DE SÃO PAULO

Os relatos de que o presidente dos EUA, Donald Trump, teria dito em reunião na quinta (11) que seu país recebe imigrantes de "países de merda" —ao se referir a Haiti, El Salvador e nações africanas— causaram reações de desagrado pelo mundo.

Trump veio a público nesta sexta (12) para comentar o episódio e negou ter usado o termo. A frase foi relatada sob condição de ter o nome omitido nas reportagens por pessoas que estavam na reunião a jornais como "Washington Post" e "New York Times".

Nesta sexta (12), porém, o senador democrata Dick Durbin confirmou o relato em entrevista a um canal de TV.

"Ele [Trump] fez esses comentários torpes e vulgares, chamando as nações de onde eles [imigrantes] vêm de 'países de merda' —esta é a palavra exata usada pelo presidente, não só uma vez mas repetidamente", disse.

Em inglês, o termo é "shithole", "buraco de merda" ou fossa, em linguagem chula.

"Por que todas essas pessoas desses países de merda vêm parar aqui?", teria afirmado o presidente, em referência a imigrantes de países africanos, do Haiti e de El Salvador. Trump ainda teria sugerido que os EUA fariam melhor se atraíssem pessoas de lugares como a Noruega.

Trump negou o uso do termo, mas admitiu que usou palavras fortes: "O linguajar usado por mim na reunião do Daca [programa que protege jovens imigrantes] foi forte, mas não assim".

O presidente também afirmou que "nunca disse nada ofensivo a respeito do Haiti, a não ser que o Haiti é obviamente um país muito pobre e problemático".

Desde que assumiu, há quase um ano, Trump anunciou que não renovará as permissões de residência de haitianos e salvadorenhos.

AFRONTA

O Haiti convocou o encarregado de negócios dos EUA em Porto Príncipe para uma reclamação formal sobre a declaração, que considerou racista. "Esperamos que ele não tenha dito isso, mas, se disse, esperamos que ele se desculpe", afirmou o embaixador haitiano em Washington, Paul Altidor, à TV NBC.

A União Africana se declarou "alarmada" pelos comentários. "Dada a realidade histórica de quantos africanos chegaram aos EUA como escravos, a frase é uma afronta ao comportamento aceitável", disse Ebba Kalondo, porta-voz da organização.

"É particularmente surpreendente, já que os EUA são um exemplo de como a migração deu à luz uma nação construída sobre valores de diversidade e oportunidade."

Crédito: Sunday Alamba/AP Pessoas fazem compras em mercado em Lagos, na Nigéria
Pessoas fazem compras em mercado em Lagos, na Nigéria

O partido no poder na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC), declarou que os comentários de Trump eram "extremamente ofensivos". A secretária-geral adjunta, Jessie Duarte, disse que países em desenvolvimento têm dificuldades, mas os próprios EUA têm milhões de pessoas desempregadas e sem cobertura de saúde.

O líder da oposição na África do Sul, Mmusi Mamaine, chamou os comentários de Trump de "abomináveis". "O ódio [de Trump] às raízes do [ex-presidente e filho de africano Barack] Obama agora se estende a todo o continente."

Cidadãos africanos criticaram os comentários em redes sociais. "Por favor, não confunda os líderes de merda que elegemos com nosso lindo continente", escreve o queniano Boniface Mwangi.

Assessores de Trump têm alertado o presidente para a falta de políticas em relação ao continente africano. Passado um ano, postos de embaixador estão vagos em países cruciais como África do Sul, Egito, Congo e Somália.

Para o comissariado de Direitos Humanos da ONU, a frase é racista e incita a xenofobia. "São comentários chocantes e vergonhosos do presidente dos EUA. Não há outra palavra a usar a não ser 'racista'", disse o porta-voz Rupert Colville.

Já na Noruega o político Torbjoern Saetre escreveu em rede social: "Em nome da Noruega: Obrigada, mas não obrigada". Centenas de milhares de noruegueses emigraram aos EUA no século 19, mas em 2016 apenas 502 fizeram o movimento, de uma população de 5,3 milhões.

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