Editorial: Tranquilizante cambial
O Banco Central tomou a providência pragmática e equilibrada de oferecer a instituições financeiras --e, indiretamente, a empresas-- um plano de financiamento de emergências cambiais.
Isto é, anunciou um alentado programa de oferta de instrumentos financeiros (swap cambial) e de empréstimos em dólar até dezembro. Desse modo, criou condições para ao menos atenuar os surtos de especulação que vinham tornando ainda mais daninha e perigosa a escalada da moeda americana.
A decisão é ponderada porque não procura controlar a tendência de alta do dólar em relação ao real, derivada de fatores que não estão sob controle do Banco Central: primeiro, a mudança da política econômica nos Estados Unidos e a decorrente alta das taxas de juros naquele país; segundo, o crescente deficit externo brasileiro, a diferença entre as exportações e importações de bens e serviços.
Mas o Banco Central não poderia permanecer indiferente aos riscos potenciais da rápida desvalorização do real. A alta do dólar cria dificuldades para empresas com dívida externa, para citar apenas o problema mais elementar.
O receio de um enfraquecimento acelerado do real tende a provocar um aumento da procura de proteção cambial e de dólares. Essa situação oferece campo de manobra para a especulação com moedas, o que impulsiona outra vez o ciclo de desvalorização. Trata-se de círculo vicioso que poderia desencadear corrida irracional de procura por dólares e mesmo pânico.
Ao oferecer um fluxo regular de recursos em dólar, o BC contribui para que empresas e instituições financeiras atravessem esse período de transição com menos contratempos, desestimulando especulação e variações ruinosas da taxa de câmbio no curtíssimo prazo.
É muito improvável, porém, que o dólar deixe de se valorizar. O ajuste da política monetária americana não começou. Nem nos EUA há clareza sobre o destino das taxas de juros, às quais por ora anda atrelado o valor do real.
Além do mais, a taxa de câmbio no Brasil depende de indicadores concretos --como inflação, atividade econômica e gasto do governo-- e de expectativas que variam de acordo com o nível de racionalidade da comunicação e das políticas do governo.
Ainda assim, a providência do Banco Central contribui para serenar os ânimos e atenuar receios de descontrole no câmbio, que poderiam erodir ainda mais a confiança dos agentes econômicos.
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