editorial
Guerra de nervos
Em uma crise crônica que se torna mais aguda de tempos em tempos, a Coreia do Norte voltou a ameaçar seus adversários com ataques nucleares, em renovada provocação aos Estados Unidos. A incerteza, desta vez, é alimentada também pelo perfil mercurial do novo ocupante da Casa Branca.
Guardadas as devidas proporções, a combinação, em ambos os lados, de personalismo, armas de destruição em massa e apostas geopolíticas arriscadas torna o cenário mais instável e eleva a apreensão da comunidade global.
Apesar dos recentes fracassos em testes de mísseis, seria um erro negligenciar a ameaça representada pela ditadura norte-coreana. Em fevereiro, projéteis do país atingiram águas marítimas da zona econômica japonesa.
Restam, ademais, poucas dúvidas de que o regime do ditador Kim Jong-un esteja desenvolvendo mísseis de alcance intercontinental, o que o americano Donald Trump estabeleceu como limite para uma ação militar.
Alçado ao poder em 2011, aos 28 anos de idade, após a morte de seu pai, Kim vem dando provas de ser incapaz de administrar disputas internas. Coloca em risco três gerações de uma dinastia familiar, no poder desde 1948, que levou a Coreia do Norte às trevas.
Fragilizado politicamente, o déspota tem na ameaça nuclear sua principal demonstração de poder, sobretudo no cenário externo. Vale-se do potencial bélico para barganhar, à base de chantagem, alguma relevância mundial.
Igualmente adepto da retórica agressiva, Trump acusou a Coreia do Norte de "buscar encrenca" e ameaçou "resolver o problema" com ou sem a ajuda diplomática da China, o único aliado internacional de Pyongyang.
Na esteira do recente bombardeio a uma base aérea síria e do emprego, no Afeganistão, da mais poderosa bomba não nuclear americana, as ameaças de Trump provocaram maiores temores que de costume.
Nesse cenário tão volátil, somente a China, provavelmente, tem condições de mediar a perigosa escalada de intimidações.
Deveria também usar seu enorme poderio econômico para forçar a Coreia do Norte a abandonar de vez seu programa nuclear, desarmando assim uma das principais ameaças à estabilidade mundial.
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