Por que estudantes agridem professores?
Bruno Santos/Folhapress | ||
A professora Luciana Rocha estava na sala de aula quando a mãe de uma aluna invadiu o local para agredi-la |
No dia 17 de setembro, a Folha publicou reportagem sobre as agressões a professores e professoras nas escolas estaduais de São Paulo. No dia 27, a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) divulgou dados de nova pesquisa sobre o tema.
Nela, 51% dos docentes declararam já terem sido vítimas de algum tipo de violência na sua escola, e 61% dos professores e 72% dos estudantes disseram considerar suas escolas ambientes de violência.
O que leva os estudantes, com quem convivemos até seis horas diárias, em 200 dias letivos, a agredirem os professores? É possível que a violência nas escolas seja totalmente eliminada? A resposta é não.
Existem, porém, formas de reduzi-la. Uma delas é a ação dos professores mediadores, um programa que atende a uma reivindicação da Apeoesp, seu impacto na redução da violência nas escolas estaduais e que a Secretaria da Educação reduziu drasticamente neste ano.
O novo programa de mediação lançado pela Secretaria não amplia o número de mediadores. Nem todas as escolas terão esse profissional. Também transfere a função a vice-diretores, que possuem outras atribuições e não estão focados na questão da redução da violência.
Não basta constatarmos que a violência que existe na sociedade se reflete nas escolas. É preciso definir como a educação vai lidar com isso, construir coletivamente respostas para o problema.
É necessária a contratação de mais funcionários para as escolas, assegurar dignidade aos professores, em todos os aspectos, condições de trabalho, jornada adequada, salários justos e tornar a escola mais atrativa para os estudantes.
Professores de educação física e de educação artística desenvolvem com os estudantes atividades aparentemente individuais, mas que remetem à coletividade, ao trabalho em equipe.
O desporto, a arte e a cultura, assim como a sociologia e a filosofia, são fundamentais na formação dos estudantes, para que possam sentir que a revolta que carregam pelas injustiças de que são vítimas pode ser compreendida e trabalhada. Que não devem responder com violência.
Essas disciplinas podem ajudar a prepará-los para o exercício da cidadania e emancipá-los, para que lutem pelos seus direitos e ocupem seus lugares na sociedade. Agredir professores é inaceitável.
O governo do Estado deveria ouvir as diversas vozes da sociedade, resgatar a dignidade dos professores e restabelecer sua autoridade na sala de aula. Abrir as escolas para a comunidade, para que ela participe de sua gestão, por meio dos conselhos de escola. Deve respeitar a autonomia dos grêmios estudantis.
Sempre convivemos com a indisciplina dos estudantes, porém não havia um quadro de violência como o que estamos vivendo. Os professores tinham autoridade. Hoje, o governo do Estado também não respeita os professores, nem os estudantes. Superlota as salas de aulas, não valoriza os docentes e os culpa pelas mazelas causadas pelas políticas governamentais.
Este governo não consegue dar respostas para a questão da violência, assim como não dá respostas para as demandas e dificuldades das escolas públicas estaduais.
Quando deu uma resposta, o governo criou o professor mediador, cujo quadro reduziu neste ano.
A Apeoesp ingressou com mandado de segurança, mas o governo estadual não cumpre a sentença que reconduz esses professores a suas funções.
Se o governo estadual quer realmente encontrar uma saída para a questão da violência nas escolas, comece ouvindo todos os segmentos envolvidos e a sociedade. E já tem uma tarefa: cumprir a decisão judicial e reconduzir os professores mediadores imediatamente.
MARIA IZABEL AZEVEDO NORONHA é professora e presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo)
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