Julgamento pelo assassinato de extrativistas no PA começa nesta 4ª
Os três acusados pelo assassinato de um casal de extrativistas começam a ser julgados nesta quarta-feira (3) em Marabá, no sudeste do Pará, quase dois anos após o crime.
O julgamento é considerado por promotores e advogados como "emblemático".
Governo pede punição na Justiça de acusados de matar extrativistas
Acusado de matar casal recebe do Incra a terra que motivou conflito
France Presse |
José Cláudio e sua mulher, mortos em maio de 2011 |
Será a primeira vez que um crime de repercussão internacional é julgado no sudeste do Estado, região conhecida pela tensão dos conflitos de terra e pela impunidade.
Após 1.018 mortes por conflitos de terra de 1985 a 2011 na Amazônia, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, apenas 30 casos foram julgados até agora.
Os de ampla repercussão, como o massacre de Eldorado do Carajás, em 1996, e o assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005, foram julgados em Belém após pedidos dos acusados.
Editoria de Arte/Folhapress |
Os extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva, 54, e Maria do Espírito Santo, 53, foram mortos a tiros em uma emboscada, quando andavam de moto num assentamento onde viviam, em Nova Ipixuna, no interior do Estado, em maio de 2011.
Na ocasião, os tiros de escopeta perfuraram coração e pulmão de ambos.
O Ministério Público denunciou o agricultor José Rodrigues Moreira, como o mandante do crime, seu irmão Lindonjonson Silva Rocha, como autor dos disparos, e Alberto Lopes do Nascimento, como coautor do assassinato. Os três estão presos desde 2011.
A motivação do crime, segundo a denúncia, foi a disputa pela posse de uma área rural dentro do assentamento Praialta-Piranheira, onde José Claudio Silva e Maria do Espírito Santo moravam.
Em 2012, como a Folha revelou, o Incra (órgão federal da reforma agrária) assentou a mulher de Moreira, Antonia Nery de Souza, no assentamento Praialta-Piranheira.
O benefício à mulher do acusado de ser o mandate do assassinato poderá ser revista pela autarquia federal.
O promotor Danyllo Pompeu afirma que os acusados pelas mortes do casal de extrativistas serão julgados por pessoas que conhecem a realidade dos conflitos de terra, daí o júri ser emblemático, segundo ele.
"Os acusados não têm poder econômico nem a influência como nos outros casos. Serão julgados por jurados da região", disse.
Segundo Pompeu, uma das provas da participação dos réus na cena do crime é uma máscara de mergulho.
Exames de DNA indicam que os fios de cabelo encontrados na máscara podem pertencer a dois dos acusados. "Pediremos 60 anos de prisão para cada um dos réus", afirmou o promotor.
O advogado Wandergleisson Fernandes Silva, que defende os irmãos José Rodrigues Moreira e Lindonjonson Silva Rocha, afirma que eles negam envolvimento no crime.
"A acusação tem indícios de autoria de caráter duvidoso. A defesa vai provar a negativa de autoria", disse.
A reportagem não localizou o advogado Erivaldo Santis, que defende o acusado Alberto Lopes do Nascimento.
Colaborou FELIPE LUCHETE, de São Paulo
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