Clima para dia julgamento de Lula vai de medo à música dos 'lokos liberais'

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO

Ora um Carnaval, ora um campo de guerra. Ambas as descrições são usadas para resumir as expectativas de grupos à esquerda e à direita com o que os espera em Porto Alegre no dia 24 de janeiro, quando o ex-presidente Lula será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região após ser condenado em primeira instância, pelo juiz Sergio Moro, a nove anos e meio de prisão.

Entre os partidários do petista, o plano é mobilizar de 20 mil a 50 mil pessoas e 500 ônibus vindos de todo o país, segundo o presidente do PT porto-alegrense, Rodrigo Dilelio.

Os acampamentos abrigarão lulistas começam a ser montados no próximo fim de semana, e o site Com Lula em POA oferece hospedagem, estilo Airbnb solidário, para quem ficar sem teto.

Já o MBL (Movimento Brasil Livre) espalhará, a partir do dia 20, outdoors dando boas-vindas a Lula. Organizaram o CarnaLula, a ser realizado num parque local, e escalaram a La Banda Loka Liberal, que já embalou protestos contra o PT antes.

Crédito: Omar Freitas - 31.jul.2016/Agência RBS
Músicos da La Banda Loka Liberal em ato pró-impeachment da presidente Dilma, em 2016

Executarão a trilha sonora pró-condenação os músicos que adotaram nomes artísticos de "Cavalo Loko, Galinha OprimeDilma e seus amigos capitalistas da CIA", se dizem representados pela Capitalismo Selvagem Records e se definem como "bloco de rua da zoeira capitalista opressora". O grito de guerra: "Vem magoar socialistas com a gente!!!".

Alguns dos principais movimentos que foram às ruas pelo impeachment de Dilma Rousseff não farão atos na frente do TRF contra o "grão-petista". Não falta vontade, mas sobra medo, diz Carla Zambelli, do Nas Ruas e aspirante a deputada federal.

Para explicar por que não viajará à capital gaúcha, ela compartilhou uma montagem com o fundador do MST (Movimento Sem Terra), João Pedro Stedile, ameaçando ocupar tribunais se Lula for preso. "Não vamos colocar ninguém em risco", afirma.

"A gente não vai pro TRF no 'dia D' porque os petistas vão", diz Adelaide de Oliveira, que herdou a liderança do Vem pra Rua de Rogério Chequer (que saiu pois é pré-candidato ao governo paulista).

"No horário do julgamento, vamos levar faixas de protesto, mas não vamos convocar manifestação pra evitar confusão", afirma Kataguiri.

'ZERO CHANCE'

"Zero chance de confronto", até porque brigas "desestimulam a presença" de manifestantes, afirma Dilelio, o presidente do PT municipal.

Mas Pepe Vargas, que preside o PT-RS, admite estar apreensivo com a presença de infiltrados. Segundo ele, haverá militantes credenciados para identificá-los e orientados para deter rixas. A preocupação nasce de recentes atos que desembocaram em conflitos entre polícia e black blocs. "Estamos orientando nossos militantes a não cobrir o rosto. Não temos por quê", diz.

O que a frente pró-Lula teme, isso sim, é a truculência da Brigada Militar, a polícia estadual gaúcha, diz a presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Marianna Dias.

"Principalmente após as declarações do prefeito, que chegou a dizer que manifestações por lá não são bem-vindas". Refere-se a Nelson Marchezan Jr., tucano ligado ao MBL.

Ele solicitou a Michel Temer a presença do Exército e da Força Nacional no dia 24, alegando "iminente perigo à ordem pública e à integridade dos cidadãos". O pedido incomodou o Planalto e foi definido pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, como "impossível" e "ilegal". Para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, a atitude demonstrou "medo do povo".

O deputado do PT-RS Marco Maia admitiu haver "radicalismo" de todos os lados após o presidente do TRF-4 dizer que um militante de Mato Grosso do Sul ameaçou atacar fisicamente o prédio do tribunal e que desembargadores estão recebendo ameaças –alguns deles tiraram suas famílias do Estado.

Militantes chegam já nesta semana para fazer panfletagem nas áreas carentes de Porto Alegre, em busca de apoiadores. Para a semana do julgamento, PT e movimentos aliados montaram uma programação especial, com eventos como: "Grande Ato com Juristas e Intelectuais em Defesa da Democracia", "Encontro Internacional de Mulheres Pelo Direito de Lula Ser Candidato" (com a presença da ex-presidente Dilma Rousseff) e uma versão "pocket-size" do Fórum Social Mundial, com atrações como Rap Concientements e Rock Sativa.

NESTE SÁBADO

Em atos realizados neste sábado (13) em defesa de Lula, lideranças do PT criticaram o presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores, que citou ameaças que juízes estão recebendo. Em São Paulo, o vice-presidente da sigla Alexandre Padilha disse que o juiz deveria ser mais cauteloso ao se dizer apreensivo com possíveis ataques no dia 24.

"Ou começa a virar falácia, tentativa de se transformar em vítima", disse o petista no diretório do partido. Para Padilha, o magistrado deveria pedir imediatamente investigação, e não "criar clima de intolerância".

Em Porto Alegre, "centro das atenções" dos atos deste sábado, a senadora Gleisi Hoffmann discursou para um público pequeno.

A presidente da sigla disse crer que o Judiciário trabalha com parcialidade e que o PT não irá reconhecer eventual condenação na segunda instância. "Lula continuará candidato, vamos continuar nossa luta", afirmou.

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