Para jornalistas, condenação de Lula e vitória na CCJ não aliviam Temer
O cenário político brasileiro, já efervescente nos últimos meses, ganhou entre quarta (12) e quinta-feira (13) movimentações cruciais para duas figuras de peso.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pelo juiz Sergio Moro, mas disse que vai reivindicar o direito de concorrer à Presidência em 2018.
Já Michel Temer deve ver a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara decidir se aceita ou não o parecer do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) sobre a denúncia de corrupção apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República –último passo antes da decisão no plenário.
O futuro político de Lula e de Temer foi tema de debate promovido pela TV Folha na tarde desta quinta (13). Participaram da mesa o editor de "Poder", Fábio Zanini, a editora do "Painel", Daniela Lima, e o diretor da sucursal de Brasília da Folha, Leandro Colon.
Para os jornalistas, ainda que Temer vença essa etapa da CCJ, seu horizonte não se torna necessariamente mais positivo. "Será uma vitória artificial, porque o governo precisou manobrar, usar a caneta com nomeações e promessas de cargos", disse Daniela.
Zanini e Colon lembraram que, no rito definido pela Câmara para o andamento do processo, a decisão em plenário pode ficar para agosto. "Estamos falando de um país paralisado até lá", afirmou o editor de "Poder".
"A aprovação da reforma trabalhista no Senado também não pode ser vista como demonstração de força de Temer", disse Colon.
"O presidente corre o risco de se manter sangrando durante o recesso parlamentar e mostrar que não tem força para se livrar de uma denúncia, sabendo que nesse meio-tempo podem vir delações como a de Eduardo Cunha e uma nova denúncia, ainda mais forte, da Procuradoria."
Os jornalistas da Folha avaliam também que a condenação de Lula não significa uma vitória para o governo.
"O Planalto teve alívio porque agora tem com quem dividir a atenção da crise, mas a sentença de Moro é também um recado de que Temer não terá vida fácil se eventualmente perder o cargo e o foro privilegiado", afirmou Colon,
Daniela apontou que a estratégia de Lula deve ser "dobrar a aposta". "Ele mostrou que não está disposto a vender barato essa condenação para o juiz Moro, vai colocar na rua a agenda de perseguição política", disse.
A sentença, porém, coloca mais perto a possibilidade de ele se tornar inelegível. "Ter Lula fora da eleição abre um leque de opções que o Brasil só viu em 1989, e obriga uma reorganização de todas as forças políticas."