Escritor e diplomata, mestre em direito (Harvard). Serviu na missão na ONU e no Chile, EUA, México e Japão. É autor de "Sergio Y. vai à América" (Cia das Letras).
Basta
Estou em Snape Maltings, às margens do rio Albe, no interior da Inglaterra. Vim participar de um debate sobre as eleições brasileiras no Flipside Festival, versão britânica da Flip, que acontece aqui neste fim de semana.
Minha perspectiva das eleições vem de minha experiência como cidadão, escritor, funcionário público e minoria sexual. No debate, falarei por que acho necessário que o Brasil eleja um novo presidente.
Preferiria que essa necessidade não existisse, e que, no debate, minha fala pudesse ser outra. Sempre me identifiquei com o programa político do PT e cheguei a assistir às aulas do Instituto Rio Branco com estrela vermelha presa na lapela.
Hoje, porém, acredito que fui enganado e que a necessidade de substituição da atual presidente é real. Como brasileiro, é o que sinto. Sou sincero.
Penso em metas não cumpridas, dados estatísticos manipulados, demagogia, aparelhamento da máquina do Estado e inúmeros escândalos de corrupção. Penso que a candidata Dilma quer nossos votos, mas se recusa a apresentar seu programa de governo. Para mim, o Brasil, sob Dilma Rousseff, ficou pior.
Como escritor, envergonho-me com a falta de incentivo e os cortes no modesto programa de traduções de livros brasileiros no exterior, enquanto as verbas bilionárias de propaganda institucional do governo não param de crescer.
Como funcionário público, assisto incrédulo ao desmonte insidioso que se opera no Itamaraty, cuja excelência é reconhecida internacionalmente, mas que sofre constante bullying por parte do Planalto. Quem já foi alvo de assédio moral sabe do que estou falando.
Não entendo a lógica de um governo desqualificar o órgão que o representa no exterior. Enfraquecer o Itamaraty é enfraquecer o Brasil. Nenhum presidente tem o direito de fazer isso.
Mas tem gente que é assim, que sente prazer em tratar mal seus colaboradores. Para quem é um esforço hercúleo ouvir, buscar pontos em comum, congregar pessoas –essas coisas que todo bom líder tem de saber fazer, dentro e fora do Brasil.
Na última Assembleia-Geral da ONU, a presidente, uma vez mais, perdeu a oportunidade de fazer seu trabalho. Em lugar de se encontrar com outros governantes e discutir temas da agenda internacional, desprezou as Nações Unidas, tratando-as como palanque eleitoral. Em português claro: a presidente queimou o filme do Brasil. Não foi para isso que ela foi eleita.
Por fim, como minoria sexual, senti-me abandonado. A presidente ignorou todos os apelos para que apoiasse a causa LGBT. Eu mesmo escrevi um artigo ("Dilma, precisamos de sua voz"). A voz da presidente nunca se levantou em defesa dessas minorias.
Ao contrário. Lembro""me de quando ela –oferecendo a cabeça dos LGBT à bancada evangélica– afirmou publicamente que seu governo "não faria propaganda de opção sexual". Agora, na campanha eleitoral, posa de amiga dos gays.
Parece piada, mas é só oportunismo. Presidente bom não faz isso. Fui enganado uma vez. Para mim, foi o bastante.
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Comentários
Ver todos os comentários (36)Educado
23/10/2014 15h28 Denunciarbigred
22/10/2014 22h11 Denunciarse liga rapaz as coisa não fuciona assim,veja em são paulo quanta corrupção em minas no aeroporto do tuca aeciopó não tem moral nem um para falar de desvio.e a agua em e a agua.
zimmer
15/10/2014 09h47 DenunciarTodos de bom senso já perceberam da desqualificação deste partido no âmbito moral, desqualificação de comportamento, gestão, preocupados com sua pobreza mental, que se reflete em corrupção e demais mediocridades...mas o desaparelhamento não é só com esse ou aquele ...é com todos os que possam representar oposição pensante...se baseiam num socialismo absolutista a qualquer preço!...
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Sr. Colunista, concordo plenamente que deve haver rodízio de poder neste país e isto também vale para os governos estaduais, inclusive alguns que estão há 20 anos no poder.