
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Limites
SÃO PAULO - O retrato devastador que o repórter Fabiano Maisonnave traçou de algumas escolas médicas da Bolívia fala por si só. Não obstante, cerca de 25 mil estudantes brasileiros estão matriculados nessas instituições --o equivalente a 23% do total de alunos que fazem graduação em medicina por aqui.
Como a maioria não deve ter planos de migrar em definitivo para o país vizinho, esses jovens apostam que o mercado por médicos no Brasil seguirá atraente e que, em algum momento, conseguirão validar seus diplomas e voltar para casa. Os dados empíricos, porém, não recomendam otimismo. Em 2012, só 2,1% dos graduados na Bolívia passaram no Revalida, contra uma média de 8,7%.
Esse descompasso entre sonhos e competência mostra o que está acontecendo no setor. De um lado, faltam médicos no sistema público. As escalas de postos de saúde e hospitais aparecem com brancos. O envelhecimento da população também aponta para um mercado em expansão. O governo, portanto, tem interesse legítimo em ampliar a oferta de vagas em medicina e, emergencialmente, até em importar profissionais.
Há, é claro, um outro lado, que é o da qualidade. Garantir que todo brasileiro seja atendido sempre por um profissional preparado e atualizado exigiria mudanças fortes no processo de certificação, com a introdução de um exame de proficiência ao final da graduação, nos moldes da prova da OAB, e avaliações periódicas.
O problema é que esses dois objetivos são contraditórios. Se mais jovens cursarem medicina, iremos necessariamente recrutá-los entre candidatos menos preparados, o que fará com que a qualidade média dos graduados caia. E, se instituirmos testes mais rigorosos, formaremos ainda menos profissionais.
Uma alternativa seria redesenhar todo o sistema, reservando as visitas a médicos para casos mais graves. Mas esse é um assunto que todo o mundo prefere evitar.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
Comentários
Ver todos os comentários (4)Herdf
05/11/2013 10h41 DenunciarLuiz
05/11/2013 10h30 DenunciarÉ só o Governo Federal mandar os brasileiros estudarem em Cuba, assim teremos profissionais da saúde altamente qualificados. Isto se seguirmos a lógica do atual projeto de saúde pretendido para o nosso País.
lapanagio
05/11/2013 09h43 DenunciarHélio, concordo com tudo. Não é apenas o médico que possui capacidade para atendimento. O enfermeiro, o farmacêutico e fisioterapeuta, dentre outros, têm capacidade para atender um paciente e encaminhar se necessário ao médico. Um farmacêutico estuda anatomia, fisiologia, bioquímica, química, deontologia, exames laboratoriais, patologia,etc. Não tem capacidade para discernir uma dor de cabeça comum e uma meningite? Uma diarréia de uma hemorragia intestinal? O corporativismo precisa ser quebrado.
Em Colunistas
- 1
Mônica Bergamo: Gonet esquece microfone aberto e diz que fez 'cagada' em depoimento de Aldo Rebelo ao STF
- 2
Demétrio Magnoli: A comédia dos quatro erros
- 3
Painel: Professor é condenado à prisão por exibir fotos de bolsonaristas e chamá-los de terroristas
- 4
Mônica Bergamo: Moraes volta a negar liberdade a Braga Netto e defesa diz que general virou 'bode expiatório'
- 5
Marina Izidro: 'Jogos Olímpicos de Atletas Dopados': dá para morrer ou ficar milionário
Discordo de que instituições com interesse direto no assunto façam exames, afinal eles buscarão sempre controlar o mercado para favorecer a remuneração. O índice crescente de reprovação da OAB é qualidade ou filtro? por pior que o ensino esteja, não creio que seja 80% de reprovação. Revalida não é feito por médicos brasileiros e tem a recusa total dos mesmos, quem conhece o assunto diz que a maioria não passaria, não é para limitar mesmo?