
Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.
Desunidos pela união
Mais do que "discutir um programa em conjunto", a reunião de 120 integrantes autênticos do PSB e informais do quase-Rede da Marina Silva inicia uma tentativa de convivência entre os dois contingentes.
Esse artifício é, por si só, demonstração clara da extrema dificuldade, para não dizer da impossibilidade, de integração efetiva das duas correntes. Ao menos, agora para dizer alguma coisa positiva, enquanto não estiver decidido, de fato, quem será o candidato do partido à Presidência.
Nenhum programa autêntico sairá desses encontros planejados pelas cúpulas dos dois PSB, tamanhas são as diferenças de propostas. O que podem fazer é acrescentar mais um mal à artificialidade partidária brasileira, com outra contrafação de programa.
Só o propósito da Rede de suscitar um enfrentamento com o agronegócio, por exemplo, basta para impossibilitar entrosamento autêntico com o PSB de Eduardo Campos, que tem todo o interesse no entendimento com a riqueza e a força política desse setor.
Em sua oração pela unidade, diz a deputada Luiza Erundina que "Marina se juntou ao PSB para construir um caminho comum às duas forças, mas cada uma delas mantendo as identidades e os compromissos". Uma beleza.
Mas, primeiro, Marina Silva juntou-se ao PSB para assegurar-se uma perspectiva que o seu frustrado partido não pôde dar. Se houvesse identificação com o PSB, "para construir um caminho comum", Marina não precisaria "concentrar-se sozinha" para escolher sua adesão, uma vez negada a existência ao seu partido.
Além disso, as duas correntes "mantendo as identidades e os compromissos" é justamente o que as impedirá de serem "algo novo" como partido, ainda no dizer de Erundina. Ou "um jeito novo de fazer política", nas palavras de Marina. A franqueza é um jeito velho, mas ainda é melhor.
O PAGADOR
Presidente da Alstom quando a empresa fechou ricos contratos com governos do PSDB em São Paulo, José Luiz Alquéres diz que, se houve corrupção, os pagamentos de suborno foram por conta do lobista Arthur Teixeira e que a este, portanto, cabe "arcar com as consequências perante a Justiça".
O argumento é forte. Ou será, quando e se Alquéres explicar por que um lobista, contratado por sugestão do próprio Alquéres, daria dinheiro a integrantes do governo se os negócios não eram para ele.
MAU SINAL
O "recall", quando fabricantes chamam consumidores para reparo de um defeito de fabricação, é mal visto por equívoco. Trata-se de um avanço na relação Fabricante/vendedor/consumidores. Mas, no Brasil, precisa de regulamentação rigorosa. Ou, com frequência, não passa de farsa para dar cobertura ao fabricante em caso de processo.
De vez em quando é transmitido um "recall" de carros Audi deliberadamente incompreensível. Lidos com mal intencionada velocidade, os números de série dos carros, com dezenas de algarismos e letras, não podem ser memorizados nem no mínimo necessário. A explicação do "recall" segue o mesmo truque de publicidade indesejada. O defeito é grave, porém. É no sistema de alimentação de combustível e implica até risco de incêndio.
Se o "recall" não considera a gravidade do problema, subordinando-se à imagem do produto, não cumpre a sua função. Em vez de louvor, merece punição legal. E assim são eles com frequência, na indústria automobilística.
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Comentários
Ver todos os comentários (3)ze
29/10/2013 12h45 DenunciarGuriatã
29/10/2013 09h55 DenunciarO Brasil ,lamentavelmente é administrado por um grande conchavo político,envolvendo grandes empresas,políticos das mais diversos matizes,com cobertura de parte da mídia,sem convite para a festa para os financiadores dela, o público em geral, mas as grandes discussões do momento são, black blocks e biografias não autorizadas de artistas apenas famosos
Dewey
29/10/2013 09h30 DenunciarPoucos sabem, mas nos Estados Unidos é possível fazer recall de políticos dentro da legalidade. Se um determinado político não desempenhar de acordo com o prometido, basta uma nova eleição composta de 25% do número de votos que o político recebeu quando eleito. Se for desaprovado pela maioría, perde o cargo e um novo ocupante é eleito. Esse processo lá é considerado uma extensão da democracia.
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Norte maravilha ( são ambos nortistas, de estados do norte, há isto em comum, talvez a farinha de mandioca, mani-oca, casa de Mani, na mesa ). É um partido de esquerda. Arraes elegeu Lula. Marina tem 30 anos de Pt.