
Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.
Só para esquentar
Para um ano que promete grande fermentação, janeiro quer se mostrar à altura, senão mais, do que seus sucessores. Sem sequer esperar pelo julgamento de Lula no dia 24, uma promessa de reabertura da velha tradição das nossas eleições. Antes disso, dois casos insinuam superar a mesmice em que caíram os alto-falantes das Lava Jatos curitibana e carioca –exceto só os R$ 50 milhões batidos que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez informaram haver pago a Aécio Neves, quando governador de Minas.
A crítica de que o Judiciário não recebeu as atenções da Lava Jato cresceu desde que o poder político do Estado do Rio se tornou alvo. Pois agora, um dos mais graúdos e mais conhecedores dos subterrâneos do seu meio, preso sem esperar complacências, revelou a amigos a disposição de abrir a cortina do Judiciário. Iniciativa que criaria na Lava Jato uma etapa diferente de tudo o que houve até aqui. A sensibilidade do Judiciário é muito maior que a dos demais poderes, não sendo necessário grande número de acusações para irradiar uma crise. Além disso, cada figura atingida, com veracidade ou não, como é do método da Lava Jato, em princípio desfruta das condições materiais para mover seus interesses em tribunais, quer dizer, é sempre alguém de notoriedade. O que inclui Brasília.
Ainda no Judiciário, o confronto envolvendo o juiz Glaucenir Oliveira, de Campos (RJ), e naturalmente Gilmar Mendes, transborda esquisitices. Esse juiz, dado a incidentes, fixado em demolir Anthony e Rosinha Garotinho, surgiu nas redes em uma gravação de acusações gravíssimas e insultos muito fortes ao ministro. No que disse de mais barato, o ex-governador pagou a Gilmar pelo habeas-corpus para tirá-lo da prisão. "Uma mala grande", diz Oliveira ter ouvido de "gente de dentro". Versão mais do inverossímil, tanto pelo pagador como pelo recebedor.
Mas por que a caça, não de agora, ao ex-governador? Até delegado da Polícia Federal já se complicou nesse tiro ao alvo. "Briga de grupos políticos". "Disputa de domínio religioso". "É um esquema para tirar Garotinho da disputa pelo governo do Estado". Tudo isso, e mais alguma coisa, é possível. Mas não explica a ausência da PF na apuração de atos, inclusive de aparência oficial, que ferem liberdades democráticas em geral e, em particular, direitos político-eleitorais.
Divulgada a gravação de ataque a Gilmar Mendes, seu imediato pedido de ação da PF resultou na informação de que a autenticidade da voz do juiz seria logo verificada. Investigação em sigilo, vá lá, porém em mais de uma semana não se teve notícia do que levaria apenas minutos. Com várias reputações em jogo.
O texto de solidariedade ao ministro, por dez integrantes do STJ, parece feito para evitar que a pedra posta sobre o assunto se transforme em lápide. E, conquanto não seja pouca a opinião de que Gilmar Mendes provoca reações crescentes, está sendo articulado o afastamento do juiz Glaucenir Oliveira. O que resolve um lado do problema, mas não o outro. A cúpula do Judiciário mais se divide do que se recompõe.
Jô e Jr.
"Estamos precisando de humor neste país" –é o que me diz a sabedoria de Matinas Suzuki (há um "Jr." ainda). Tanto concordo que digo aqui: colha e faça seu o humor, a originalidade dos casos, os casos de todas as origens, postos na "autobiografia desautorizada" que é "O Livro de Jô", feito pelo próprio e por Matinas.
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Comentários
Ver todos os comentários (5)Fábio Archilha
03/01/2018 12h41 DenunciarPaulo Moreira Silva
31/12/2017 22h09 DenunciarJanio é bálsamo e luz nas trevas de certos segmentos parciais da imprensa brasileira!
EDUARDO DE OLIVEIRA CAVALCANTI
31/12/2017 14h19 DenunciarOs responsáveis pela fragmentação do STF são os mandatários da república que buscam, nas indicações, indivíduos que priorizem, em sua atuação, interesses de seus grupos políticos em detrimento da nação. Se optassem por gente honrada e comprometida com o país a história seria bem diferente.
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Om mesmo pretexto de sempre dos criminosos, acusar quem os persegue, é evidente que tem gente do juduciário envolvido nesta corrupção toda, mas querer colcoar todo mundo no mesmo balaio é o sonho e desejo de nossa esquerda atrasada e retrógrada que destruiu o país. A única coisa que desejo é justiça para todos, a começar agora em 24/01.