Começou na Folha como repórter da Sucursal no Rio, onde chegou a diretor. Na redação em São Paulo, foi editor de "Cotidiano" e do caderno de política. Foi ainda secretário de Redação da Folha e ombudsman por três anos.
Nas mãos da polícia
O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, do Rio, iniciou um trabalho inédito de análise da cobertura que os jornais fazem de crimes, atos de violência e políticas de segurança pública.
A pesquisa avalia 2.514 textos (reportagens, notas, editoriais e artigos) publicados ao longo de cinco meses de 2004 em três diários de São Paulo (Folha, "Estado" e "Agora"), três do Rio ("O Globo", "JB" e "O Dia"), e três de Belo Horizonte ("Estado de Minas", "Diário da Tarde" e "Hoje em Dia").
O trabalho ainda não acabou. O estudo Mídia e Violência encerrou a primeira fase, de classificação dos textos, e inicia agora uma análise dos números que recolheu. Mas há alguns dados disponíveis que devem fazer os jornais pensarem.
1 - Apenas 36,4% dos textos analisados faziam referência a mais de uma fonte de informação.
2 - 32,5% tinham como fonte principal a polícia.
3 - Apenas 10,5% continham diversidade de versões ou de opiniões.
Ou seja, o estudo parcial confirma a extrema dependência que os jornais têm de fontes policiais. É um problema porque raramente são fontes confiáveis.
IRRESPONSABILIDADE
Há casos recentes que mostram como a polícia manipula a imprensa e como a imprensa acaba reproduzindo, sem qualquer verificação, acusações precipitadas feitas por autoridades policiais.
Lembro o caso da estudante Luciana de Novaes, atingida por uma bala perdida, em maio de 2003, quando lanchava no campus da Universidade Cândido Mendes, no Rio. A polícia divulgou, no dia e nos dias seguintes, vários nomes de suspeitos. Até um aluno da faculdade foi apontado como responsável pelo tiro.
Outro caso, de novembro de 2003 e também no Rio, foi o assassinato do executivo da Shell Zera Todd Staheli e de sua mulher, Michelle. A polícia, antes de qualquer investigação, jogou no ar várias teorias nunca comprovadas e chegou a apontar uma filha do casal como suspeita.
Isso não ocorre só no Rio. Pressionada pela imprensa em grandes casos, o comportamento irresponsável da polícia se repete no Brasil inteiro.
A dependência exclusiva de fontes policiais é um problema ainda mais sério em cidades onde o tráfico de drogas mantém domínio de territórios. Como a imprensa não pode entrar nesses locais, os crimes que ali ocorrem têm apenas uma versão, a da polícia. Nas vezes em que a imprensa teve condições de ter acesso a outras fontes nem sempre a versão da polícia foi confirmada.
CASO NOVO
Nada disso é novidade, os jornais têm consciência dessa dependência, reconhecem publicamente os problemas que ela ocasiona, mas continuam dando crédito ilimitado à polícia.
Acabamos de assistir a outro exemplo. O ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro foi assassinado no Rio na noite de terça-feira. Na sexta, os jornais deram os nomes de vários suspeitos apontados pela polícia. Um deles foi acusado porque, descobriu-se, era um homicida foragido da Justiça.
O fato de o sujeito ter álibi comprovado não impediu que seu nome e foto saíssem nos jornais. A polícia tinha a obrigação de prendê-lo, por ser um foragido; mas não tinha provas para acusá-lo no caso do ambientalista. A Folha publicou ainda o nome e a história de um pastor protestante que, segundo a polícia, seria outro suspeito.
Na mesma sexta, a polícia anunciou à tarde a prisão do assassino. Não era o foragido nem o pastor. E agora?
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