
Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
Brics vs. Mint
Habita o futuro da economia global grande população de acrônimos. Bric, Brics, Ibas, N-11, Mist. E agora, Mint (conjunto de México, Indonésia, Nigéria e Turquia). É a nova sigla elaborada por Jim O' Neill, primeiro formulador da ideia de Bric.
Por que essas siglas surgem aos montes? A aposta nos mercados de maior crescimento no futuro às vezes é jogada de marketing. Sofisticados fundos são montados por bancos de investimento quando um grupo de países está prestes a arremeter. E esses fundos ajudam na decolagem --percebida e real.
Foi o que aconteceu com o Bric a partir de 2001-2003, quando se organizaram os primeiros produtos financeiros agregando numa mesma cesta papéis desses países. Tudo isso é legítimo e faz parte do jogo.
Se países não têm boa performance, gestores mudam seu foco para outro grupo e assim por diante. Aqui, o termo forte é "mercados emergentes", e o desempenho é medido sobretudo em matéria de retorno sobre investimentos.
O "Bri" (Brasil, Rússia e Índia) de Bric tem decepcionado com crescimento baixo e imobilismo político. Excetuando-se a China, a média de crescimento recente do Mint é bem superior à do Bri. E o Mint apresenta ainda melhores perspectivas em termos de bônus demográfico.
Há também o tema da institucionalização de novos agrupamentos político-econômicos. Aqui, ao contrário do que supunham os céticos, os Brics (acrescidos de África do Sul) têm conseguido consistência. No ano que vem, em Fortaleza, realizarão sua sexta cúpula de chefes de governo.
Possuem densa agenda comum --com grupos de trabalho em áreas como saúde pública ou combate ao terrorismo. Lançam em breve o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 50 bilhões para infraestrutura. É irreal supor que o Mint venha a percorrer processo de construção institucional semelhante ao dos Brics.
A questão mais importante, no entanto, diz respeito ao conceito de "potências emergentes". É algo mais abrangente do que o critério majoritariamente financeiro com que se abordam "mercados emergentes".
É por isso que, quando surgem novos siglas a denotar o dinamismo das nações, logo se pergunta: "Brics são coisa do passado e serão substituídos pelo Mint?".
O maior risco para os Brics não vem de um outro acrônimo da moda. O perigo é o descolamento da China como superpotência a pactuar-se mais com EUA e Europa do que seus parceiros emergentes.
Pequim e Bruxelas iniciaram conversações para acordo de comércio e investimentos. Prosseguem tratativas entre Pequim e Washington para um acordo bilateral ou algo no âmbito da Parceria Transpacífico, que envolve também outros atores de Ásia, Oceania e América do Sul.
Focalizada em objetivos maiores, a China pode utilizar a plataforma Brics de forma decorativa. Isso será ruim para o Brasil.
Saltará aos olhos nossa ingênua aposta na OMC e na Cooperação Sul-Sul. Seremos cada vez mais percebidos como potência intermediária de crescimento insatisfatório, nenhum apetite para reformas e governo disfuncional.
mt2792@columbia.edu
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Comentários
Ver todos os comentários (2)Dewey
29/11/2013 17h41 DenunciarBene
29/11/2013 08h29 DenunciarDe novo diante de nosso subdesenvolvimento, faltam líderes, ausencia de planos claros. Enquanto ficamos torrando os suados dolares com bugigangas, USA e China sabem muito bem aonde querem chegar, aqui ficamos de mau humor disputando quem manda mais.
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O BRICS é apenas um amontoado de letras e não existe na realidade. Apenas alguns ingênuos no Brasil acreditaram que esse pseudo-bloco poderia ser um contraponto as grandes potências. Enquanto a Índia declarava publicamente que o Brasil era um concorrente, membros do governo brasileiro participavam solenemente de reuniões com os participantes do grupo, sob o olhar sonolento e entediado dos representantes da China.