
Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.
Lá no Brasil invisível
Em uma viagem pelo interior mais pobrezinho do Nordeste, este jornalista deu com uma cena que então parecia meio exótica. Crianças alimentadas, numa barulheira alegre, lotavam um ônibus escolar amarelo como aqueles de filme americano, mas estalando de novo.
De onde saíra aquilo? Na lataria, estava escrito: "Programa Caminho da Escola - Governo Federal". O jornalista confessa com vergonha que até este ano jamais ouvira falar do "Caminho da Escola". Além do mais, tende a desconfiar de que alguns desses programas com nomes marqueteiros sejam ficções, que existam apenas naquelas cerimônias cafonas de anúncios oficiais.
O "Caminho da Escola", porém, financiou quase 26 mil ônibus desde 2009, em mais de 4.700 cidades. Digamos que os ônibus carreguem 40 crianças cada um (deve ser mais). Dá mais de 1 milhão de crianças. Conhecendo a falta de dinheiro e as distâncias das escolas nos fundões do país, isso faz uma diferença enorme.
Daqui do centro rico de São Paulo, o Brasil, esse país longínquo, e muitas ações do governo parecem invisíveis. Quase ninguém "daqui" dá muita bola para programas populares dos governos do PT até que o povo miúdo apareça satisfeito em pesquisas eleitorais.
Juntos, tais programas afetam a vida de dezenas de milhões de pessoas, tanto faz a qualidade dessas políticas, umas melhores, outras nem tanto, embora nenhuma delas seja nem de longe tão ruim quanto a política econômica.
Quem "daqui" conhece o Programa Crescer (Programa Nacional de Microcrédito)? Existia desde 2005, foi reformado por Dilma Rousseff em 2011, quando passou a contar com crédito direcionado e juro baixo, ora negativo (5%, abaixo da inflação).
O Crescer já financiou o negociozinho de 3,5 milhões de pessoas, um terço delas recipientes de Bolsa Família. Tem uma versão rural, mais antiga, mas vitaminada nos governos do PT, o Pronaf, que ofereceu crédito a juro real ainda mais baixo a 2,2 milhões de agricultores pequenos na safra 2012/13.
O Pronatec já é mais falado, mas pouco conhecido (até mesmo pelo governo, que só agora começou a fazer uma avaliação de resultados). Irmão mais novo e em geral grátis do universitário Prouni, trata-se de um conjunto variadíssimo de ações que procura oferecer cursos profissionalizantes e técnicos (ensino médio).
Desde sua criação, foram mais de 5 milhões de matrículas (há evidências esparsas de grande evasão, de uns 20%, mas ainda falta estatística séria). A maioria das vagas é reservada para os mais deserdados dos brasileiros.
Reportagem desta Folha mostrou que os 13 mil médicos do Mais Médicos devem estar ao alcance de cerca de 46 milhões de pessoas no ano que vem. Não é uma política ampla de saúde, está claro. Mas, outra vez, vai resolver muito problema de muita gente deserdada desta terra.
O Minha Casa, Minha Vida já entregou 1,32 milhão de casas; tem mais 1,6 milhão contratadas. Beneficia 4,6 milhões de pessoas.
Junte-se a isso tudo as já manjadas transferências sociais, em dinheiro, crescentes em valor e cobertura. É muita gente "de lá" beneficiada. Goste-se ou não do conjunto da obra, o efeito social e político é enorme.
A gente "daqui" precisa visitar mais o Brasil.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
Comentários
Ver todos os comentários (8)KBÃ Ã O
04/01/2014 23h23 Denunciarduducox
09/12/2013 22h14 DenunciarMas a Folha não é a representante da mídia elitista ? Ou esta designação é usada somente quando interessa ?
vareta
09/12/2013 15h38 DenunciarOutro programa que poucos conhecem é o MINHA CASA MINHA VIDA RURAL
Em Colunistas
- 1
Mônica Bergamo: Mello Araújo e lojistas fazem ato após esvaziamento da cracolândia e querem 'pessoas do bem' na região
- 2
Mônica Bergamo: Sanção de Trump a Moraes é inadmissível e gerará solidariedade, dizem ministros do STF
- 3
Lúcia Guimarães: Burrice orgânica acompanha o culto à inteligência artificial
- 4
Painel: Justiça suspende lei que libera patrocínio de empresas no uniforme escolar em cidade do litoral de SP
- 5
Painel: Usar maconha medicinal todos os dias mudou minha vida, diz Janones
Visitei, de carro, quatro estados menos favorecidos e surpreendi-me.Os europeus já perceberam o potencial...nós não...Vamos acordar, em vez de pensar em viajar para europa e estados unidos...Eles já perceberam.