USP vai usar Enem para 20% das vagas
Duas em cada dez vagas da USP serão preenchidas pelo Enem no próximo ano –e 76% dessas cadeiras com seleção pelo exame serão exclusivas para alunos da rede pública. Trata-se do maior avanço já feito na USP para ampliar a inclusão na universidade.
Somente duas de todas as unidades da universidade recusaram a reserva de vagas no Sisu (Sistema de Seleção Unificada): o Instituto de Física em São Paulo e a Escola de Engenharia de São Carlos. A plataforma reúne as instituições que usam a nota do Enem como forma de seleção.
A Faculdade de Medicina, uma das mais concorridas e com índices reduzidos de inclusão, não discutiu o tema. Há a expectativa de que a unidade debata a questão no final deste mês. Mas, por conta do prazo, a avaliação interna da reitoria é de que dificilmente uma decisão da faculdade valerá para o próximo ano.
A USP terá 2.171 vagas (20% do total) no próximo Sisu. Dessas vagas, 1.332 serão para escola pública e 327, para estudantes pretos, pardos e indígenas (que também sejam de escola pública). Mais 512 estarão no Sisu na ampla concorrência, para alunos de qualquer escola.
As outras 8.901 vagas continuarão a ser disputadas pela Fuvest. O sistema de bonificação para quem é da rede pública segue valendo.
DESAFIOS
A USP iniciou no ano passado o uso do Enem para tentar ampliar a inclusão. No último processo seletivo, 13% das vagas foram para o Sisu, mas nem todas foram preenchidas. As unidades impuseram uma nota mínima no Enem muito elevada, o que inviabilizou o preenchimento de todas as vagas do Sisu.
Assim, nas unidades que aceitam o ingresso pelo Sistema de Seleção Unificada, os estudantes passam a poder entrar na USP de duas formas: pelas provas da Fuvest e pelas do Enem.
Mesmo com a entrada no Sisu, a USP teve queda de alunos de escola pública em 2016. Neste ano, 34,6 % dos novos alunos vieram da rede -um ano antes, foram 35,1%. Cerca de 85% dos alunos do ensino médio de São Paulo estudam na rede pública.
A USP tem a meta de ter, até 2018, ao menos 50% dos ingressantes vindo de escolas públicas, garantindo ainda 35% de negros e indígenas entres esses alunos (de forma a refletir a proporção da população no Estado).
Instituições tradicionais como a FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) e a FAU (de Arquitetura e Urbanismo) reservaram 30% das vagas para a escola pública no Sisu. Na FAU, por exemplo, metade dessas vagas ainda serão para negros e indígenas.
Para o professor da FEA Alexandre Saes, a medida deve ter bons resultados. "O sistema de seleção precisa manter o perfil de meritocracia, de trazer bons alunos para a universidade, e ao mesmo tempo viabilizar a diversificação do corpo discente."
O tema sempre foi controverso na universidade. O ex-reitor José Goldemberg não aprova o caminho que a instituição tomou. Para ele, a reserva de vagas põe em risco a excelência da USP. "O máximo que se poderia fazer é aumentar o bônus no vestibular para quem é de escola pública, mantendo o critério da meritocracia", afirma ele, que preside a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
"A USP tem o papel de formar os quadros elevados, não deve ser palco de inclusão."
GREVE
O movimento estudantil decretou greve neste ano reivindicando a adoção de cotas. "Essa universidade se propõe a pensar em soluções para a sociedade, e é difícil pensar isso sem a sociedade aqui", diz o estudante Rafael Pelleti, 21, do 3º ano de biologia. "Melhor seria ter cotas também na Fuvest, aproveitando o perfil de alunos das duas formas de seleção."
Professores e servidores técnico-administrativos ligados aos sindicatos também estão em greve desde maio.
As mudanças decididas pelas unidades precisam ser oficializadas pelo Conselho Universitário, instância máxima da USP. A próxima reunião deve ocorrer no fim deste mês.
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Comentários
Ver todos os comentários (2)Dewey
07/07/2016 10h42 DenunciarGutenberg
07/07/2016 09h00 DenunciarA USP tem 94 mil alunos. Quantos destes estão nesta chamada "greve"? Creio que cerca de 0,3%. Parem de dar notícia para esse povo.
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Estou de acordo com o Dr. José Goldemberg. O principal objetivo da Universidade deve ser o da busca da excelência. Ao agir assim ela cumpre a sua obrigação para com a sociedade de maneira direta e indireta. As universidades não foram feitas para resolver os problemas sociais do país; esse deve ser é o trabalho de quem governa e da sociedade em geral. Ao misturar alho com bugalho a Universidade não faz nem uma coisa nem outra. Seguimos nivelando por baixo no país.