Não vou ficar agradecendo, diz nova presidente da UNE
Recém-eleita, Carina Vitral cobra do governo mais benefícios para alunos
Passe livre e bandejão em universidades privadas são bandeiras citadas pela estudante de economia da PUC-SP
Entre o retrocesso e o avanço, a pauta da primeira semana da nova presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Carina Vitral, foi, no mínimo, agitada.
Na quarta (10) estava em Brasília, onde diz ter ouvido do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, que a entidade será ouvida sobre os rumos do Fies (programa de financiamento universitário).
No mesmo dia, deixou a Câmara, onde acompanhava a comissão que votaria o projeto que reduz a maioridade penal, sob o efeito de spray de pimenta, retirada por policiais. A votação foi adiada.
Ante os problemas causados pela redução de verbas para o setor, como no Fies, ela reconhece avanços, mas cobra mais transparência do governo Dilma (PT). "Eu não vou ficar agradecendo o resto da vida por um direito."
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Folha - Qual a diferença de um presidente da UNE vindo de faculdade particular?
Carina Vitral - Isso se deve a uma mudança de composição da UNE. Hoje, o desafio é formular uma agenda para quem já teve alguns direitos [garantidos]. Além do Prouni, por exemplo, que é uma conquista também da UNE, mas que já faz dez anos, qual outro direito? Jovem é assim. Eu não vou ficar agradecendo o resto da vida por um direito. Eu quero mais.
O que, por exemplo?
Passe livre. Bandejão em universidades privadas...
Como a UNE acompanha os problemas no Fies?
O início do ano foi conturbado e prejudicou os alunos. Algumas propostas foram positivas, como o teto para reajuste das mensalidades. O problema é que isso foi feito da noite para o dia, próximo à abertura dos contratos.
A UNE está sendo ouvida?
O ministro disse querer nos ouvir sobre o Fies. É preciso uma reformulação completa.
Qual o problema do Fies?
Transparência. É o único programa educacional cujo controle está na mão dos empresários. Por exemplo, por que [as vagas para] o Fies não é selecionado pelo Sisu?
De quem partiu a reação na Câmara que acabou com policiais usando gás de pimenta?
Os deputados conservadores começaram a nos ofender. Alberto Fraga (DEM-DF), principalmente. O mesmo que bateu boca com a Jandira Feghali (PC do B), o do 'Se bate como homem, mulher tem que apanhar como homem'. Falavam coisas como: 'isso aqui virou um antro de piranhas e viadinhos'.
Por que a maioridade penal está na pauta da UNE?
Porque reduzir a maioridade penal é um retrocesso para toda a juventude.
Você é filiada ao PC do B. Como analisa a atuação dos aliados do governo e do Congresso?
Um bom amigo não fala só o que você quer ouvir. Quando preciso, tem que falar o que não quer ouvir também.
Na última eleição [para presidente], a direita caiu, mas caiu atirando, como diz o capitão Nascimento [do filme "Tropa de Elite"]. O Congresso reflete isso, mas também é o fruto de um sistema de financiamento privado. O que é o Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se não a expressão do financiamento privado de campanhas?
Como analisa lideranças jovens, como Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre?
Não acho que isso cole dentro da universidade. O jovem não é de direita. Nossa geração é mais contraditória do que conservadora.
A UNE ainda os representa?
Sim, vivemos um processo de adaptação da composição da UNE [com cotistas e alunos do Prouni] e de nossas pautas.